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sexta-feira, 29 de março de 2013

O CAMINHO DA CRUZ (III Parte)



            Depois da Santa Ceia, Cristo e seus discípulos deixaram o local onde a haviam promovido. Atravessando-se o riacho de Cedrom. Sentou-se numa pedra e sentindo grande agonia, chegou a suar sangue. Precisamos mais é entender porque nosso sofrimento comparado ao d’Ele nada significa. Precisamos ter coragem para assumirmos a nossa condição de fraqueza. E até mesmo diante da agonia a qual passou, Cristo foi tentado e conseguiu com muito custo e fé até que fosse preso.
            Repetimos sempre as palavras de Cristo de várias outras maneiras: “Pai, se possível afasta de mim este cálice” (Mc 14, 36). Dizemos: “Senhor, não queria sofrer”, “Senhor, gostaria de saber porque sofro tanto”, “Senhor, porque eu sofro?”. Infelizmente muito poucos têm coragem de completar a frase “Mas que seja feita a Tua vontade e não a minha” (Idem). Isso é o que precisamos para dizer ao Pai, que a vontade é D’Ele e não nossa.
            Traído por seu discípulo, sendo entregue aos chefes dos Sacerdotes, sofre até no caminho por incompreensão dos seus próprios amigos. Pedro, em impulso corta a orelha de Malco, o empregado do Sumo-Sacerdote. E acaba proferindo a famosa frase que deu origem ao ditado popular: “Os que matam pela espada, por ela serão mortos” (Mt 26, 52). Quando menos se esperava, os outros evangelistas nos dão as pistas, todos os apóstolos começam a abandoná-lo, como que se dissessem com sua fuga que o projeto de Deus estava começando.
            Levado aos sumos-sacerdotes, mais uma vez o jogo da política é uma das responsáveis por levar o Salvador ao suplício. Com uma frase que muda todo o rumo das negociações na Igreja, o condenado segue à delegacia. Pedro, do lado de fora lembra-se do que recebeu de Cristo na última ceia e imensamente triste, retira-se em humilhação total: “Antes que o galo cante, tu Me negarás três vezes!” (Mt 26, 34). Levado diante da governadoria geral, o procurador romano, Pôncio Pilatos.
            Interrogado, Jesus nos deixa de herança, a melhor forma de reagirmos aos julgamentos. Um silêncio inteligente diante dos que não entendem a nossa missão diante do Reino de Deus Pai. Pilatos fica intrigado ao querer saber “o que é a verdade” (Jo 18, 38), porém sem resposta, foi consultar o povo. Coração aflito, Jesus se prepara para eminentemente seu sacrifício para a Redenção.
            O romano tenta de todos os jeitos aplacar a fúria da multidão que se concentra do lado de fora do palácio. Cristo levado à presença das autoridades, rapidamente é taxado de tudo, menos de santo. Pilatos então lhe aplica três golpes políticos para tentar escapar da responsabilidade: o primeiro, surra de chicotes e flagelos como punição para seu “crime” e depois seria solto, embora fraco. A esposa de Pilatos, apelidada de Cláudia pelos apócrifos e por alguns historiadores, sofrera em sonho na noite anterior por causa de Cristo e pedia ao marido para que não fosse o responsável por sua condenação (Mt 27, 19).
            Pela opção do povo, persuadido pelos chefes dos sacerdotes, a saída que Pilatos encontra é um segundo golpe, achando que o povo não libertará um prisioneiro perigoso chamado Barrabás que está preso por ter se subvertido ao governo de Roma. E o povo escolhe justamente o verdadeiro ladrão (Mt 27, 15-21). Símbolo da cegueira do povo, Barrabás é o que é solto naquele dia. Cristo é então preparado eminentemente para o sacrifício definitivo aqui deste ponto em diante.
            O terceiro e último golpe de Pilatos é chamado de “lavo minhas mãos”. Com uma bandeja d’água, lava as mãos em sinal de irresponsabilidade diante do sangue de Jesus (Mt 27, 24). E trazendo-lhe a condenação, duas horrorosas novidades para a morte de cruz. A primeira, os condenados tinham que levar apenas o patíbulo às costas (madeiro horizontal) e Jesus foi condenado, fraco como estava a levar as duas peças, o patíbulo e a trave, que juntas, somavam um peso que se necessitavam de mais de duas pessoas para carrega-la. Caindo por vezes sem conta pela fraqueza física, Cristo é subjugado ao peso dos nossos pecados por meio do instrumento do suplício.
            A julgar pela caminhada, o cenário não poderia ser diferente, uma pedreira fora dos muros da cidade, chamada de Calvário (em hebraico Gólgotha). Cristo ainda preparava três fatos de grande ensinamento para o grande momento; primeiro: perdoar seus assassinos durante sua execução (Lc 23, 34). Segundo: perdoar o ladrão que lhe pediu perdão (Lc 23, 43). Terceiro: Jesus nos entrega sua mãe para ser a nossa mãe, começando por São João Evangelista (Jo 19, 26-27).
            Cinco dias antes, a mesma multidão que o acolhia em Jerusalém o mandava à morte, sem entender que de um jeito ou de outro, a condenação não era de todo uma loucura, era a vontade de Deus para o plano salvador da humanidade, embora muitos só fossem notar que a Ressurreição só tomaria sentido após o martírio quando a cruz começou a doer naqueles mais próximos a Ele.
            A segunda novidade é que os dois prisioneiros condenados com Cristo continuam com o método tradicional, algumas tradições dizendo que receberam também a crucificação por perda total de sangue por meio dos pregos, outras traduções acusam que apenas Jesus recebera os pregos na crucificação.
            A política da época, ainda está presente neste momento, quando os mesmos que o acusaram escarnecem dele usando as falsas assertivas para acusa-lo ainda em execução. E aqueles que estavam ao redor nem imaginavam o tamanho da inocência do crucificado. Usavam as mesmas palavras de Cristo usadas desta vez contra ele próprio, só que sem fundamento algum, pois Ele falava em linguagem figurada para fisgar os comentários desequilibrados alheios dos que não entendiam.
            E ainda um dos condenados teve forças para maltratar os outros dois supliciados. As provocações de um lado e um pedido de perdão do outro (Lc 23, 39-43). A promessa e a primeira salvação no calvário, São Dimas, apelidado pelos apócrifos pediu perdão e ganhou o céu por seu coração ter se aberto no último minuto, mesmo que em poucas horas de execução, já estava salvo.
            Para concluir, o preço pago foi alto demais para ninguém precisasse o pagar de novo. E hoje, o que fazemos para preservar a memória deste acontecimento? Diante de uma cruz na Igreja, às vezes não dizemos coisa com coisa, e nem mesmo nos dirigimos como salvos pelo sacrifício maior. E deixamos a pergunta: Por Quê?
            O nosso coração deve ficar em silêncio total para que a morte d’Ele não tenha sido em vão nesta sexta-feira santa e também no sentido de lhe relembrar e com Ele participar de seu Calvário, sem nada reclamar, sem nada nos parecer melhor, sem nada nos atrair para a tentação, apenas contemplar. Cantemos batendo no peito como o fez Pe. Ximenes Coutinho e a Igreja na Semana Santa de 1975 quando foi lançada a “Lamentação do Senhor”:
           
Povo meu, que te fiz eu? Diz em que te contristei? Por que à morte me entregaste? Em que foi que eu te faltei? Eu te fiz sair do Egito, Com maná te alimentei. Preparei-te bela terra. Tu, a cruz para o teu Rei! Deus santo, Deus forte, Deus imortal, Tende piedade de nós! Bela vinha eu te plantara, tu plantaste a lança em Mim. Águas doces eu te dava, Foste amargo até o fim! Flagelei por ti o Egito, primogênitos matei. tu, porém, Me flagelaste, entregaste o próprio Rei! Eu te abri o mar Vermelho, tu me abriste o coração; a Pilatos me levaste, eu te levei pela mão. Só na cruz tu me exaltaste, quando em tudo te exaltei. Que mais podia eu ter feito? Em que foi que eu te faltei? (COUTINHO, 1975)


REFERÊNCIAS:

COUTINHO, Pe. J. Ximenes. Povo Meu. In: VÁRIOS. 1-B: Cantos para a Semana Santa. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1975. (Disco) [Coleção “Discos de O Domingo” – Série “ Caminho do Pai”].

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