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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ECCE AGNUS DEI


            Foram celebrados o Domingo e a Celebração do Batismo do Senhor. Muitos passam por aquela pia que talvez nem represente nada, e vêem, muitas vezes na vida aquela pombinha que para nós lembra o Espírito Santo. Muitos são batizados, porém poucos A porta de entrada para a vida e do Reino, também dos outros Sacramentos, nos lembra o magistério:

“[...] é o primeiro sacramento da nova Lei, que Cristo instituiu para que todos possam alcançar a vida eterna 1 e em seguida, confiou à sua Igreja juntamente com o evangelho, quando ordenou aos apóstolos: “Ide e ensinai a todos os povos: batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” 2. (CNBB, 2010-a, 14)

                        Ainda de acordo com algumas profecias, a porta para a Igreja, em alegoria a entrar pela porta da Igreja novamente e renovar as promessas feitas naquele dia especial de cada um, refere-se à porta do Coração de Cristo, no que diz respeito à maior das graças que um católico pode se submeter. Na noite da Vigília Pascal, é, sem dúvida ainda mais especial, o cristão, agora, maduro e consciente de seu papel na Santa Eucaristia já começa a dizer como Santo Agostinho:

“Resolvi por isso dedicar-me ao estudo das Sagradas Escrituras, para conhecê-las. E encontrei um livro que não se abre aos soberbos e, que também não se revela às crianças; humilde no começo, mas que nos leva aos píncaros e está envolto em mistério, à medida que se vai á frente. Eu era incapaz de nele penetrar ou de baixar a cabeça à sua entrada. O que eu senti nessa época, diante das Sagradas Escrituras, foi bem diferente do que agora afirmo.”. (AGOSTINHO, 2011, 71)

            Mas como uma grande maioria, mesmo depois de batizados, não conquista ciência junto ao Espírito, eis que muito do que se explica sobre o Batismo de Jesus se explicita em obras de comentadores, em estereótipos (de ateus e de agnósticos), em películas enlatadas de cinema (das quais muitas costumam enfeitar o fato, mas há muitos que contam fielmente às Escrituras), em pinturas de museus e Igrejas (que se revelam excelentes catequeses de parede) e na afirmação Sagrada chamada Bíblia, essa cena revela mais ainda hoje “naquela pia onde nascem muitos batizados, porém se tornam maiores do que a criança que ali nasceu de novo” 3, o que o Espírito tem a nos dizer do que naquele dia onde, crianças apenas, sem noção nenhuma do que se passava, em choro espalhafatoso de criança que passa por aquilo que Cristo em sua passagem por aqui também passou. De um certo modo, as crianças no batismo choram, primeiro porque é seu meio de falar até aprenderem a faculdade mental da fala e porque desde o batismo original já estão associados à cruz os cristãos, ou seja, assim como os cardeais vestem vermelho em menção ao sangue que estão dispostos a derramar pela vida do Santo Padre, nós, os cristãos estamos envolvidos em uma missão da qual poucos conseguem sair sem o martírio.
            Como nos deixa bem claro, leituras das catequeses do Papa Bento XVI nos deixam transparecer que o batismo desde cedo revelou a Cristo seu martírio. Ao afirmar João Batista em frase clássica da Escritura, que também figura em Missais Romanos de Pio V até a Reforma Litúrgica do Papa Paulo VI em 1970, “Ecce Agnus Dei, qui tollis peccatta mundi”, em tradução literal do latim, “Este é o cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo” 4, João Batista está colocando seriamente a cruz à sombra do Espírito Santo que o prepara para a missão de três curtos anos e para as três horas das doze de agonia que se seguirão após a Santa Ceia. Mas, porque somos cheios do Espírito quando nos batizamos? Porque a cena do batismo manifesta-se assim que, na comunhão agora com Deus Pai e Filho, este último que “é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro5, e carrega o pecado das multidões6, e o Cordeiro Pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa7” (CIC 608), também nós nos unimos à Pascoa de Cristo, pois “por nascerem com uma natureza humana e decaída pelo pecado original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo (CIC, 1250).
            O teólogo Joseph Ratzinger, afirma claramente em sua obra Jesus de Nazaré 1, que o batismo nos deixa a suspeita nos evangelhos (lógico, que quem se depara pela primeira vez com as Escrituras), a menção pelo menos honrosa do Cordeiro. Assim como no Êxodo, o sangue do cordeiro inibiu o Anjo da Morte na décima e pior das dez pragas egípcias8, o sangue de um cordeiro em forma de homem suspenso no alto de uma cruz na festa da Páscoa, na cidade de Jerusalém inibe a morte de devastar o que já era em suma, levado pelo vento sem cura. O sacrifício humilhante a que se submeteu o Senhor, em sua obediência serena ao Pai, fez ressuscitar a muitos santos de seu sono, a fim de testemunharem a elevação do filho de Deus8, assim como Moisés elevou a serpente no deserto10. Nas palavras do Papa:

“A palavra acerca do “Cordeiro de Deus”, interpreta, se assim podemos dizer, o caráter teológico do batismo de Jesus, já iluminado a partir da cruz, da sua descida na profundidade da morte. (RATZINGER, 2007, 37).

            O Cordeiro que por nós se entregou foi batizado adulto. De certo modo, é sempre conveniente para os cristãos repetirem os votos feitos por seus pais e seus padrinhos no dia do seu batismo, já em idade de discrição. São muito poucos os que depois de aproximadamente quinze anos se lembram de fazer este ritual na Solenidade do Batismo do Senhor. Lembra-nos o magistério:

“Fiéis são os que, incorporados a Cristo pelo batismo, foram constituídos como povo de Deus e assim, feitos participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, são chamados a exercer, segundo a condição própria de cada um, a missão que Deus confiou para a Igreja cumprir no mundo.” (CNBB, 2010-b, 76).

            “Quero ser como fui batizado, eleito, provado e chamado”11. São versos muito bonitos para uma canção católica, porém seria ótimo se esses versos fossem cantados na maior harmonia com a vida real, de modo que um dia, mesmo que utopicamente possamos ouvir da boca dos verdadeiros cristãos que a vitória chegou por meio de Cristo. Ou como afirma um trecho de uma obra, fechando nossa discussão:

“Essa vitória sobre o pecado refulge primeiro no Batismo, pelo qual o velho homem é crucificado com Cristo para que, destruído o corpo do pecado, já não sirvamos ao pecado, mas ressuscitados com Cristo, vivamos para Deus.” (NUCAP, 2012, 104).

            Aos catecúmenos, que se batizarão na Vigília Pascal, só nos resta torcer pela sua fé e orar, para que renasçam novos Cristos e novas vidas restauradas por “aquela pia de onde renascem muitos meninos, dos quais, poucos se tornam maiores do que as crianças que renasceram ali” por fé de seus pais e seus padrinhos.


Pedro Augusto de Queiroz
Bacharelando do 6º Período de Ciências Sociais da UERN


Notas:
1 Jo 3,5.
2 Mt 28,19.
3 OLIVEIRA, José Fernandes de.  O CRISTO DO MEU BATISMO. São Paulo, Panorâmico, 1972, (Disco).
4 Jo 1, 29.
5 cf Is 53,7; Jr 11, 19.
6 cf Is 53,12.
7 cf Is Ex 12, 3-14; Jo 19, 36.
8 cf Ex 12, 1-30
9 cf Mt 27, 52-53
10 cf Nm 21, 8-9
11 OLIVEIRA, José Fernandes de.  DESSA VEZ É PRA VALER. In: CANTIGAS DE TERNURA E PAZ. São Paulo, Paulinas-COMEP, 1996, (Disco-CD). (Coleção “A Canção e a Mensagem”, vol. 6).



Referências Bibliográficas:

CNBB (org.). Código de Direito Canônico. 11 ed. São Paulo, Loyola, 2010-a.

CNBB (org.). Ritual do Batismo de Crianças. 6 ed. São Paulo, Paulus, 2010-b.

NUCAP (Núcleo de Catequese Paulinas). PASTRO, Cláudio. Iniciação á Liturgia. São Paulo, Paulinas, 2012.

AGOSTINHO, Santo. Livro III: Jovem Estudante. In: Confissões. 6 ed. São Paulo, Paulus, 2011.

CNBB (org.). Catecismo da Igreja Católica – CIC. 9 ed. Loyola, 2011.

RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Do Batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2007.