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quarta-feira, 26 de junho de 2013

A TRINCA DE JUNHO

Pedro Augusto de Queiroz (1)

            Em viés de comemoração, o mês de junho se apresenta como o maior mês de comemorações religiosas. O mês de Santo Antônio, São João e São Pedro. Quanto aos três, todos possuem histórias distintas, porém hoje em dia, o sentido delas quase que mudou radicalmente. O dia de Santo Antônio, que era um frade taumaturgo, hoje popularmente só cura feridas de amor e une duas almas que desejam encontrar cada uma a sua metade. Muitos não compreendem mais a beleza que existiu por trás de uma figura emblemática como foi Antônio de Pádua. Vários filmes e livros estão aí para mostrar a real mensagem do santo de mais de 200 sermões, diga-se de passagem, começou como padre Agostiniano, mas sua primeira homilia (que o levou á prática) foi realizada por falta de um sacerdote no mosteiro franciscano ao qual se afiliou e seus sermões escritos correram os séculos até os nossos papas mais recentes. Ele ainda chegou a decorar a Bíblia inteira de cor.
            São João Batista, que frequentemente, para os menos entendidos, pode ser confundido com São João Evangelista (por ser o discípulo mais amado do Mestre, celebrado no fim de Dezembro pela Igreja), é celebrado como o santo do batismo, como o santo das festas juninas, e pouquíssimos sabem a real intenção do Pai Eterno em nos mandar tal exemplo seis meses antes de seu primo, Jesus Cristo. Da Vinci não pintou a “Virgem das Rochas” em vão, foi para mostrar a relação sempre presente que teve João em anunciar o salvador, tanto que os meninos João e Jesus estão um de frente ao outro, João ajoelhado e Cristo fazendo o sinal tradicional do ícone do “Pantocrátor” abençoando o primo precursor.
            A pintura, que de uns tempos para cá perdeu o centro da beleza religiosa e passou a ser alvo de especulações por causa da obra “O Código da Vinci” de Dan Brown, nunca escondeu o real sentido do anúncio de João. Este foi abençoado por Deus desde o ventre, assim como Sansão e Jó. Mas o que chama mais atenção hoje em dia é a disparidade de sua festa, ora tratada como Junina (derivada da Quadrille francesa), ora Joanina (celebrada em novenas - festa de padroeiro). Temos que decidir se vamos continuar misturando sagrado e profano por toda a eternidade.

            Já São Pedro, em sua história tradicional, Cristo o elege como seu representante e lhe entrega as chaves da Igreja (comumente entendidas como as chaves do portão Reino do Céu) em Mt 16, 18. Foi crucificado de cabeça para baixo num gesto de humildade para com o Mestre e influenciou junto com São Paulo a cabeça de mais de meia Europa e Ásia para a doutrina cristã. Por acharem que o fim estava próximo, não escreveram nada sobre Cristo até São João receber a visão do Apocalipse. Mas para tanto, foi confiada por São Pedro a missão a ele de organizar os textos aos seguidores das futuras gerações. Por isso que não tenho medo de dizer que São Pedro foi um dos muitos responsáveis pelas Bíblias que temos em casa hoje.

(1) Bacharelando do 7º Período de Ciências Sociais na UERN.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

OS NOVOS JOVENS


Pedro Augusto de Queiroz
Ciências Sociais/UERN


Outro dia destes, se ouviu dizer nos bancos da Catedral de Santa Luzia que brota um sentimento de conversão para todos os jovens. Vem aí a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro e então ficou a pergunta: Que tipo de jovens teremos no próximo futuro? A dos que falam, cantam e exploram as inutilidades terrenas ou a dos realmente comprometidos com mudanças? Qual a voz que escutaremos deles no futuro que está logo ali adiante? Uma senhora que estava nos bancos disse que está surgindo uma nova dimensão de jovem com uma devoção voltada para Cristo e não para as devoções mais antigas. Está certo que devemos ter respeito por tais exemplos, mas cabe aqui acrescentar que socialmente falando, os mais velhos foram ensinados desta maneira e os mais jovens estão sendo ensinados a ter somente a Cristo.
Falar em Fé hoje em dia é perigoso. O sentimento que vem diante de uma imagem já não é mais o mesmo que brotava no coração dos jovens de hoje quando crianças. O Filho de Deus está ganhando cada vez mais sentido propriamente dito para eles e estão impressionando a muitos. As comunidades, pastorais e grupos de oração em Mossoró já se mobilizaram para ir ver o Papa Francisco na JMJ que está também, a exemplo do predecessor Bento XVI ganhando o aval positivo de cada um deles como um papa como desde João Paulo II não se via. Não nos demonstrou ainda a mesma coragem que tinha Bento XVI em escancarar os portões do Vaticano para as críticas, porém se mostra um Papa que está comprometido com o Reino.
Não sem razão, a sociedade hoje em dia questiona o porque dos jovens estarem em consonância com seus objetivos para com a sua Igreja. Dentro destes novos tempos, os jovens estão cada vez mais inquietos, ainda soam distantes os ruídos ensurdecedores da geração 1980 que combatia a sociedade com o que tinha: música alta demais e um jeito único de se expressar em cima de um palco, o que se conhece por Rock. Hoje em dia, os jovens católicos que gostam de Rock o estão usando para evangelizar, e os evangélicos também, muitos se valem das guitarras para levar Deus aos colegas de idade.
O que importa mesmo é que eles já sabem o que querem, já sabem como se fazer ouvir e já pretendem mudar o mundo, não com algumas passeatas absurdas, mas unindo-se com seus irmãos sob o nome de cristãos e levando a todos a Boa Nova, mesmo que para isso, muitos sofram ainda preconceito e tenham que passar por dificuldades no caminho, mas depois da Jornada Mundial da Juventude, veremos os resultados dessa nova inquietação deles, e esperamos, contra todo tipo de anúncio de fracasso, que anunciem cada vez melhor e se façam ouvir em todos os lugares, públicos ou privados a mensagem única, íntegra e verdadeira daquele em quem acreditamos, o Senhor e Cristo Jesus.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O CAMINHO DA CRUZ (III Parte)



            Depois da Santa Ceia, Cristo e seus discípulos deixaram o local onde a haviam promovido. Atravessando-se o riacho de Cedrom. Sentou-se numa pedra e sentindo grande agonia, chegou a suar sangue. Precisamos mais é entender porque nosso sofrimento comparado ao d’Ele nada significa. Precisamos ter coragem para assumirmos a nossa condição de fraqueza. E até mesmo diante da agonia a qual passou, Cristo foi tentado e conseguiu com muito custo e fé até que fosse preso.
            Repetimos sempre as palavras de Cristo de várias outras maneiras: “Pai, se possível afasta de mim este cálice” (Mc 14, 36). Dizemos: “Senhor, não queria sofrer”, “Senhor, gostaria de saber porque sofro tanto”, “Senhor, porque eu sofro?”. Infelizmente muito poucos têm coragem de completar a frase “Mas que seja feita a Tua vontade e não a minha” (Idem). Isso é o que precisamos para dizer ao Pai, que a vontade é D’Ele e não nossa.
            Traído por seu discípulo, sendo entregue aos chefes dos Sacerdotes, sofre até no caminho por incompreensão dos seus próprios amigos. Pedro, em impulso corta a orelha de Malco, o empregado do Sumo-Sacerdote. E acaba proferindo a famosa frase que deu origem ao ditado popular: “Os que matam pela espada, por ela serão mortos” (Mt 26, 52). Quando menos se esperava, os outros evangelistas nos dão as pistas, todos os apóstolos começam a abandoná-lo, como que se dissessem com sua fuga que o projeto de Deus estava começando.
            Levado aos sumos-sacerdotes, mais uma vez o jogo da política é uma das responsáveis por levar o Salvador ao suplício. Com uma frase que muda todo o rumo das negociações na Igreja, o condenado segue à delegacia. Pedro, do lado de fora lembra-se do que recebeu de Cristo na última ceia e imensamente triste, retira-se em humilhação total: “Antes que o galo cante, tu Me negarás três vezes!” (Mt 26, 34). Levado diante da governadoria geral, o procurador romano, Pôncio Pilatos.
            Interrogado, Jesus nos deixa de herança, a melhor forma de reagirmos aos julgamentos. Um silêncio inteligente diante dos que não entendem a nossa missão diante do Reino de Deus Pai. Pilatos fica intrigado ao querer saber “o que é a verdade” (Jo 18, 38), porém sem resposta, foi consultar o povo. Coração aflito, Jesus se prepara para eminentemente seu sacrifício para a Redenção.
            O romano tenta de todos os jeitos aplacar a fúria da multidão que se concentra do lado de fora do palácio. Cristo levado à presença das autoridades, rapidamente é taxado de tudo, menos de santo. Pilatos então lhe aplica três golpes políticos para tentar escapar da responsabilidade: o primeiro, surra de chicotes e flagelos como punição para seu “crime” e depois seria solto, embora fraco. A esposa de Pilatos, apelidada de Cláudia pelos apócrifos e por alguns historiadores, sofrera em sonho na noite anterior por causa de Cristo e pedia ao marido para que não fosse o responsável por sua condenação (Mt 27, 19).
            Pela opção do povo, persuadido pelos chefes dos sacerdotes, a saída que Pilatos encontra é um segundo golpe, achando que o povo não libertará um prisioneiro perigoso chamado Barrabás que está preso por ter se subvertido ao governo de Roma. E o povo escolhe justamente o verdadeiro ladrão (Mt 27, 15-21). Símbolo da cegueira do povo, Barrabás é o que é solto naquele dia. Cristo é então preparado eminentemente para o sacrifício definitivo aqui deste ponto em diante.
            O terceiro e último golpe de Pilatos é chamado de “lavo minhas mãos”. Com uma bandeja d’água, lava as mãos em sinal de irresponsabilidade diante do sangue de Jesus (Mt 27, 24). E trazendo-lhe a condenação, duas horrorosas novidades para a morte de cruz. A primeira, os condenados tinham que levar apenas o patíbulo às costas (madeiro horizontal) e Jesus foi condenado, fraco como estava a levar as duas peças, o patíbulo e a trave, que juntas, somavam um peso que se necessitavam de mais de duas pessoas para carrega-la. Caindo por vezes sem conta pela fraqueza física, Cristo é subjugado ao peso dos nossos pecados por meio do instrumento do suplício.
            A julgar pela caminhada, o cenário não poderia ser diferente, uma pedreira fora dos muros da cidade, chamada de Calvário (em hebraico Gólgotha). Cristo ainda preparava três fatos de grande ensinamento para o grande momento; primeiro: perdoar seus assassinos durante sua execução (Lc 23, 34). Segundo: perdoar o ladrão que lhe pediu perdão (Lc 23, 43). Terceiro: Jesus nos entrega sua mãe para ser a nossa mãe, começando por São João Evangelista (Jo 19, 26-27).
            Cinco dias antes, a mesma multidão que o acolhia em Jerusalém o mandava à morte, sem entender que de um jeito ou de outro, a condenação não era de todo uma loucura, era a vontade de Deus para o plano salvador da humanidade, embora muitos só fossem notar que a Ressurreição só tomaria sentido após o martírio quando a cruz começou a doer naqueles mais próximos a Ele.
            A segunda novidade é que os dois prisioneiros condenados com Cristo continuam com o método tradicional, algumas tradições dizendo que receberam também a crucificação por perda total de sangue por meio dos pregos, outras traduções acusam que apenas Jesus recebera os pregos na crucificação.
            A política da época, ainda está presente neste momento, quando os mesmos que o acusaram escarnecem dele usando as falsas assertivas para acusa-lo ainda em execução. E aqueles que estavam ao redor nem imaginavam o tamanho da inocência do crucificado. Usavam as mesmas palavras de Cristo usadas desta vez contra ele próprio, só que sem fundamento algum, pois Ele falava em linguagem figurada para fisgar os comentários desequilibrados alheios dos que não entendiam.
            E ainda um dos condenados teve forças para maltratar os outros dois supliciados. As provocações de um lado e um pedido de perdão do outro (Lc 23, 39-43). A promessa e a primeira salvação no calvário, São Dimas, apelidado pelos apócrifos pediu perdão e ganhou o céu por seu coração ter se aberto no último minuto, mesmo que em poucas horas de execução, já estava salvo.
            Para concluir, o preço pago foi alto demais para ninguém precisasse o pagar de novo. E hoje, o que fazemos para preservar a memória deste acontecimento? Diante de uma cruz na Igreja, às vezes não dizemos coisa com coisa, e nem mesmo nos dirigimos como salvos pelo sacrifício maior. E deixamos a pergunta: Por Quê?
            O nosso coração deve ficar em silêncio total para que a morte d’Ele não tenha sido em vão nesta sexta-feira santa e também no sentido de lhe relembrar e com Ele participar de seu Calvário, sem nada reclamar, sem nada nos parecer melhor, sem nada nos atrair para a tentação, apenas contemplar. Cantemos batendo no peito como o fez Pe. Ximenes Coutinho e a Igreja na Semana Santa de 1975 quando foi lançada a “Lamentação do Senhor”:
           
Povo meu, que te fiz eu? Diz em que te contristei? Por que à morte me entregaste? Em que foi que eu te faltei? Eu te fiz sair do Egito, Com maná te alimentei. Preparei-te bela terra. Tu, a cruz para o teu Rei! Deus santo, Deus forte, Deus imortal, Tende piedade de nós! Bela vinha eu te plantara, tu plantaste a lança em Mim. Águas doces eu te dava, Foste amargo até o fim! Flagelei por ti o Egito, primogênitos matei. tu, porém, Me flagelaste, entregaste o próprio Rei! Eu te abri o mar Vermelho, tu me abriste o coração; a Pilatos me levaste, eu te levei pela mão. Só na cruz tu me exaltaste, quando em tudo te exaltei. Que mais podia eu ter feito? Em que foi que eu te faltei? (COUTINHO, 1975)


REFERÊNCIAS:

COUTINHO, Pe. J. Ximenes. Povo Meu. In: VÁRIOS. 1-B: Cantos para a Semana Santa. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1975. (Disco) [Coleção “Discos de O Domingo” – Série “ Caminho do Pai”].

quinta-feira, 28 de março de 2013

O CAMINHO DA CRUZ (II Parte)



            Quinta-Feira Santa, uma casa e uma sala. Nesta sala, doze pessoas e seu mestre. Dali a alguns instantes, uma bacia e uma toalha. Do ponto de vista mais humilde, o lava-pés é um dos acontecimentos mais cotados da vida de Cristo para a nossa. Lavar os pés dos companheiros é simplesmente um ato de humildade e de fé. Não que precisemos inicialmente catar pedintes na rua e lhes confortar a falta que o dinheiro lhes transmite, mas suavizar as faltas que os outros têm do amor de Cristo. Como? Servindo-os.
            A narrativa começa dizendo que Jesus os reuniu para a Ceia (Jo 13, 1-3; Mc 14, 12-17; Mt 26, 17-20; Lc 22, 7-13). Foi também nestes dias que um dos amigos mais próximos de Cristo, que depois seria considerado o símbolo dos traidores. Quando Judas Iscariotes, segundo a passagem afirma que por orientação e tentação assentida do demônio, o discípulo traiu o mestre (Lc 22, 3-6). Já por volta da noite, o sentido da Páscoa de Moisés já ganharia um novo trecho de significado, ou seja, o sentido da Instituição da Eucaristia.
            A missa do Lava-Pés tem um sentido imaterial para os cristãos. Jesus se inclina e faz um serviço que muitos deles não entenderam a princípio (Jo 13, 7). Os mais entendidos de Teologia podem conferir com seus próprios olhos a ligação que existe entre o lava-pés que é realizado nos templos pelos Bispos ou por um Sacerdote e entre aquele fato que reconstruímos desde o século XVI com a instauração do Rito da Missa pelo Papa São Pio V. Se bem que de acordo com a vontade do céu, os anjos e os santos estão presentes em todas as missas formando um verdadeiro Apocalipse invisível.
            Do ponto de vista litúrgico, a Eucaristia é celebrada originalmente em duas datas, na Quinta Santa e no Corpus Christi, porém a data na qual nos centramos é exatamente a quinta santa. Neste dia também, os catecúmenos (pelo menos os da paróquia da Catedral) recebem a sua Primeira Eucaristia e se valem desta para começar a conhecer a presença de Cristo dentro de nós. Como que num esforço maior para entendermos este primeiro mistério, não nos cabe saber o que está por trás do rito ou o que está realmente acontecendo quando da elevação da Santa Hóstia para consagração.
            Sabemos exato que Cristo está ali naquele momento em presença, em espírito e em verdade. E depois que comungamos, dentro de nós. Assim como já somos a Igreja do Pai e Templo do Espírito Santo, viramos também o Sacrário que foi Nossa Senhora e também com a mesma função do Sacrário que se usa para guardar as hóstias na Igreja. Não necessitamos nos ajoelhar (a não ser por uma questão estritamente de respeito) ao Santíssimo ou à Âmbula com as espécies consagradas sobrantes após a comunhão. Já somos o Sacrário vivo de Cristo.
            Voltando ao Rito, chamado de Transubstanciação, a Hóstia é elevada aos céus, e assim nos relembra, pelas palavras do Missal Romano do Venerável Papa Paulo VI1 (em nossa língua) em seus catorze Canons (Oração Eucarística), e em seus muitos prefácios a Narrativa da Instituição, que nos faz relembrar tal fato. O centro de nossa fé está chegando ao seu auge, porém, ainda é cedo para ser o auge da história. Nosso ponto alto ainda chegará. Na missa, se repete o Cristo fez para se recordar como ele mesmo pediu (Mc 14, 22-24; Lc 22, 15-19; Mt 26, 26-28).
            Como diz a letra de Dom Carlos Alberto Navarro, “Para lembrarmos a morte e a cruz do Senhor, nós repetimos como ele fez, gestos e palavras até que volte outra vez”.2 Interessantemente, João não chega a relatar o acontecido com tantos detalhes como os outros evangelistas, porém deixa a lição do Amor fraterno que Jesus pediu e de onde duas canções nos lembram constantemente que amor é esse, embora bem já caídas no ostracismo da modernização do hinário litúrgico:

[...] Pra sempre convosco estarei, em mim colocai vosso ser. Pois nada podeis realizar se eu não vos der o poder. Assim como o Pai me amou, assim também Eu vos amei, só isto importa fazer, amor com amor devolvei. Todo mundo verá que Eu sou vosso mestre. Se souberdes amar como eu vos amei, como eu vos amei. Não quero chamar-vos de servos, amigos assim vos chamei, pois tudo o que ouvi de Meu Pai, confiante vos comuniquei. Na busca constante da luz, será vosso guia o amor, vereis a verdade total, vereis face a face o Senhor. (RICCIARDI fsp, 1982). 3

Todos saberão que somos de Cristo se nos amarmos, se nos amarmos uns aos outros. Deus habita quem vive a caridade, pois Deus é caridade. O Pai nos amou com tanto amor, que para nossa vida enviou o seu filho amado. Esta é a maravilha do amor, foi Deus que nos amou por primeiro. As trevas que sofremos passarão e brilhará para nós a verdadeira luz. (ALVES, 1969). 4


            Este amor é a Lei do Reino de Deus. A oferta apresentada no altar em forma de pão e de vinho é por nós conduzida ao coração por meio da comunhão. Também costumamos comemorar o dia da instituição do sacerdócio, já que a fórmula principal da comunhão é extraída da própria Santa Ceia. Os sacerdotes abençoam junto com o Bispo, e no caso de Roma, os Cardeais junto com o Papa os santos óleos da Crisma, da Unção dos Enfermos e do Batismo.
            Vamos acompanhar com fé esta semana santa a fim de que por nós mesmos adiantemos a festa que apesar do silêncio que ronda a sexta e meio-sábado, vamos nos preparar para pegar carona no peso da cruz que Cristo carregou. Unamo-nos à sua agonia nesta noite durante a Adoração do Santíssimo nas paróquias de nossa cidade, lembrando a agonia no Horto e sua prisão. Jesus nos deixa seu exemplo. Vamos contemplar sua santidade na sexta-feira quando sua entrega ultrapassa todo e qualquer sacrifício que possamos imaginar.


PEDRO AUGUSTO DE QUEIROZ
Bacharelando do 6° Período de Ciências Sociais da UERN

1 CNBB (org.). Missal Romano. São Paulo, Paulus: 1993.

2 NAVARRO, Dom Carlos Alberto (Letra). FARIAS, Waldeci (Música). Antes da Morte (Canto de Entrada). In: Eu Sou Vossa Páscoa. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1983. (Disco) [Coleção “Discos de O Domingo”].

3 RICCIARDI fsp, Irmã Maria Luiza Perdoso. Todo Mundo Verá. In: Ninguém Falou como Esse Homem. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1982. (Disco).

4 ALVES José. Todos Saberão. In: Campanha da Fraternidade 1970: Ser Cristão é Participar. São Paulo, Gravação Independente sob encomenda da CNBB: 1970. (Disco). Também pode ser achada no compacto da Campanha da Fraternidade de 1969 (Para o Outro o Próximo é Você), porque o disco da campanha foi reaproveitado no ano seguinte pela semelhança dos temas.

sábado, 23 de março de 2013

O CAMINHO DA CRUZ (I Parte)

Pedro Augusto de Queiroz Ferreira / UERN 1


            Um homem galileu comum, um jumentinho, dezenas de outras pessoas que gritam com ramos nas mãos e panos no chão passeiam pela porta de Jerusalém. O galileu consciente de que está cumprindo a vontade do Pai, a multidão consciente de que o messias esperado chegou e que desta vez irá detonar o império romano para sempre. O que eles não sabiam era interpretar as Escrituras. Zacarias já afirmava isso antes e o povo não o compreendeu:


Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta. (Zc 9, 9).


            O povo acreditava em um Messias que arrebentasse as bases do império de césar, porém o que eles receberam foi um messias que em humildade se aproximou deles como um rei que procura sempre estar perto do seu povo. E os fariseus, vendo aquilo, acharam que pela ordem que vigorava, Jesus havia chegado com todas as forças para provocar uma rebelião, já que Jesus sempre desaparecia quando o povo o chamava de Rei no meio da multidão ou quando realizava milagres em público.
            Por acharem que por Jesus estar apoiando e aceitando que o aclamassem Rei, estivesse ele talvez planejando a armadilha suprema contra o templo ou contra a festa da Páscoa, interferiram ele: “No meio da multidão, alguns fariseus disseram a Jesus: "Mestre, manda que teus discípulos se calem. (Lc 19, 39)” e Jesus lhes responde uma frase enigmática, que tem mais sentido hoje do que naquele tempo: “Eu digo a vocês: se eles se calarem, as pedras gritarão.” (Lc 19, 40).
            Os fariseus devem ter imaginado tudo, menos que Deus pudesse se manifestar contra a lei seca e ao mesmo tempo mal praticada deles de tal forma que até mesmo pelas pedras pudesse glorificar o Seu filho amado. O que o povo estava fazendo poderia ser mesmo em um sentimento de renovação política, porém o que os fariseus não sabiam era que desta vez Jesus estava confiante na vontade do Pai em que o povo o aclamasse Rei, embora em dentro de cinco penosos dias terminasse onde terminou.
            Jesus era um profeta que não lidava diretamente com a política, e sim com as atitudes, não destruía a lei, mas mostrava os erros de quem a mal praticava. Os fariseus ao ouvirem a resposta de Jesus (Lc 19, 40) nem imaginavam que se realmente o povo se calasse, as pedras poderiam gritar. Fica um recado para a nossa realidade de hoje, em que muitos louvam e muitos ficam apenas vendo a fé alheia e não têm coragem de se juntar à nossa fé. Às vezes, as pedras são os que ficam atrás de nós para nos substituir quando cansamos, ou seja, se nós nos calarmos por falta de fé e por falta de estímulo, Deus colocará sempre outros para louvá-lo e para direcionar o seu coração a Ele.
            Os fariseus são os que tentam nos calar, e é claro que isso é muito comum nos nossos dias, já parou para pensar no quanto os nossos próprios irmãos nos levam a muitas vezes buscar caminhos errados  e a procurar tudo, menos o que realmente precisamos procurar, o caminho de Deus? O povo gritando e louvando são muitos dos nossos irmãos, que mesmo sem ter muita noção de religião, têm sempre um forte caráter de política e de atualidades que é uma beleza. Sabem que estão na Santa Missa para comemorar algo ou alguém e sabem que esse alguém tem todo o poder para mudar suas vidas, porém são vazios de conteúdo porque não sabem que o alguém que eles estão comemorando não vem a acudir todas as mazelas que ficaram dos tempos dos erros do Cristianismo ou os que se acham justos de receber a graça, porém aos cujos corações se acharem dignos de serem atendidos:
             
Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor', entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?” Então, eu vou declarar a eles: “Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!” “Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.” (Mt 7, 21-24).

           
            Portanto, prestai atenção, nem todo aquele que o chamar com a boca de Senhor e sim quem o chamar com o coração é que merecerá a honra de repetir o gesto da plateia da entrada triunfal original em Jerusalém. Naquele tempo, a festa da antiga Páscoa estava sendo preparada. Com a entrada de Jesus em Jerusalém, a Páscoa ganha outro sentido totalmente novo, mas isso é assunto para o Domingo da Ressurreição. Por ocasião de seu advento na cidade santa, os judeus que viajavam mais cedo eram sempre curiosos de saber se sua presença seria mesmo confirmada. Ao entrar em Jerusalém, aí é que o paradoxo maior de sua história começa a se desenrolar.
            Seus amigos mais próximos começam a revelar seu lado mais esquivo, os fariseus começam como nunca a persegui-lo, e o mais irônico de tudo, cinco dias depois de ser aclamado rei, a multidão viu se cumprir o que dizia Jesus tempos antes:


Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu. Como Moisés levantou a serpente no deserto. para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 13-16).


            Nem os discípulos, nem os fariseus, nem mesmo os judeus entenderam de primeira esta mensagem, porém hoje nós entendemos que por meio da serpente de bronze, enroscada na união entre a trave e o patíbulo, chamada na época dos romanos de Cruz (que para nós hoje é o símbolo de seguir ao Mestre), é que ele deveria ser elevado a vista de todos. Qual não foi a surpresa dos discípulos e a angústia de Nossa Senhora ao descobrirem o que realmente o aguardava depois da Santa Ceia. O Domingo de Ramos nos permite começar uma semana de lembrança, que além do sofrimento, nos lembra que principalmente é preciso assumir depois da entrada triunfal uma preparação radical para morrer ao mundo e ressuscitar para o Pai.
            A tradição dos ramos (e mesmo da semana santa) veio surgindo ao longo das eras de modo que foi-se incorporando ao nosso calendário. Época de reflexão e de cânticos que refletem essa data, como “Louvor a Vós, Ó Cristo Rei” 1, “Recebe este Canto do Chão” 2 ou “Hosana Hey” 3, que já é a tradicional nas missas deste dia. A manifestação de cunho político para uns, de objetivo Divino para pouquíssimos e de objetivo reacionário do ponto de vista da maioria. O que decerto não poderia dar muito certo, mas era vontade de Deus. Refletimos hoje o real significado e deixamos a pergunta: O que você enxerga no ato do Domingo de Ramos hoje?


REFERÊNCIAS:

1 Bacharelando do 6° Período de Ciências Sociais da UERN.

2 Letra extraída do Lecionário Dominical*. Música de Eurivaldo S. Ferreira. Louvor a Vós, ó Cristo Rei. In: Liturgia XIV. São Paulo, Paulus, 2004. (CD).

3 Letra de Geraldo Leite. Música de Pe. Reginaldo Veloso. Recebe este Canto do Chão. In: Idem.

4 Letra e Música de Roberto Malvezzi. Hosana Hey. In: Hosana Hey. São Paulo, Panorâmico, 1978. (LP).

* CNBB (org). Lecionário I: Dominical. São Paulo: Paulus, 1993. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

QUARESMA E SEMANA SANTA, TEMPO FORTE DE PERDÃO


Fonte Original: INSTITUTO RELIGIOSO NOVA JERUSALÉM
http://irnovajerusalem.com.br/movimento-biblico/formacoes/quaresma-e-semana-santa-tempo-forte-de-perdao/



A palavra QUARESMA nos vem da língua latina “quadragesima dies” e expressa o número ordinal 40 (ou quadragésimo). Em outras palavras se refere ao número de quarenta dias. Na Regra de São Bento (cap. 49) verificamos a aparição do uso dessa palavra já entre os séculos V-VI da nossa era para indicar o que entendemos hoje, onde os monges beneditinos dedicavam quarenta dias em preparação para a grande festa da páscoa, que marca o ápice de nossa fé cristã. Nesse período, os monges intensificavam as práticas que constituem os pilares da fé judaica-cristã, que basicamente são aoração, o jejum e a caridade (este último também traduzido por “esmola”). Os monges eram ensinados a fazer de sua vida uma eterna Quaresma (cf. RB 49,1), mas como a força física não permitia a todos os monges fazê-la, todos eram convocados a guardarem sua vida nesses santos dias de forma mais intensa e radical, onde as faltas de outros tempos também deveriam ser apagadas.
                A Regra ainda nos orienta à vigilância, à preservação de todos os vícios, à entrega, à oração com lágrimas, à leitura (da Palavra, em especial dos Salmos e textos dos santos), à compulsão do coração e à abstinência. Essas palavras podem nos parecer pesadas nos dias de hoje, porém, para os monges e cristãos piedosos, sempre será uma necessidade de amor educar a vontade para agradar a Deus e tornar-se uma pessoa melhor. O Evangelho nos exige flexibilidade e docilidade à ação de Deus. A piedade cristã nunca pode ser vista como melancólica ou masoquista, antes se trata de educação da vontade e da liberdade tendo em vista um bem maior.
                A Quaresma inicia-se em nossa Igreja na Quarta-feira de Cinzas e se estende até a noite da Quinta-feira Santa, não contando os domingos, pois o dia do Senhor sempre será um dia festivo e de grande júbilo, mesmo em tempos de penitência. Tempo forte de oração, penitência e conversão, porém, o Código de Direito Canônico (cf. Cân. 1249 e 1250) orienta também todas as sextas-feiras do ano para o jejum e práticas de penitência, para termos sempre em mente o dia em que o Senhor suspirou na cruz, salvo alguma festa ou solenidade coincida neste dia. Nenhum cristão católico está isento de fazer penitência, salvo por motivo de força maior (idade avançada, problemas de saúde, etc.). Verifiquemos agora o que nos diz o nosso Código:
Cân. 1249 — Todos os fiéis, cada qual a seu modo, por lei divina têm obrigação de fazer penitência; para que todos se unam entre si em alguma observância comum de penitência, prescrevem-se os dias de penitência em que os fiéis de modo especial se dediquem à oração, exercitem obras de piedade e de caridade, se abneguem a si mesmos, cumprindo mais fielmente as próprias obrigações e sobretudo observando o jejum e a abstinência, segundo as normas dos cânones seguintes.
Cân. 1250 — Os dias e tempos de penitência na Igreja universal são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.
A paixão de Jesus é sempre lembrada não apenas na semana santa, mas na récita do terço mariano, de uma forma especial pelo Terço da Misericórdia, muito difundido no mundo e que às três horas da tarde é sempre alvo de preces e súplicas do nosso povo, fora as demais práticas de piedade como a Via Sacra e devoções que levam a contemplação desse insondável mistério.
É importante frisarmos o quanto o número 40 é de grande significação na Sagrada Escritura, pois representa os quarenta dias e quarenta noites do dilúvio (cf. Gn 7,4), tendo em vista o “arrependimento” de Deus em ter criado o homem (cf. Gn 6,6), arrependimento este que mais parece um aplacamento de sua cólera e retirada de sua ameaça. Os quarenta anos da estadia do povo de Deus no Deserto em busca da terra prometida (cf. Dt 1,3; 8,2), também os quarenta dias que Moisés passou no Monte Sinai para receber a Lei do Senhor (cf. Ex 24,18), os quarenta dias de caminhada do Profeta Elias ao Monte Horeb (cf. 1Rs 19,8) com o intuito de salvaguardar a Aliança e preservar a pureza da  fé. No livro dos Juízes, aparece um período de 40 anos de paz em que passou Israel (cf. Jz 3,11). Quarenta anos durou o reinado dos três primeiros reis de Israel: Saul (At 13,21), Davi (2Sm 5,4s) e Salomão (1Rs 11,41). Tendo por base estas informações, percebemos que o número 40 não está se referindo necessariamente a uma conotação cronológica, mas teológica, que mais parece representar uma geração.
A prática monástica ocidental na observância da Quaresma é adotada mais tarde por toda Igreja para consagrar e lembrar o período em que Jesus passou no deserto antes de iniciar seu ministério público (cf. Lc 4,1-13). Gostaria de a partir desse texto fazer nossa reflexão, extraindo alguns elementos fundamentais.
DESERTO: lugar de provação, tentação. Na mitologia, era o lugar onde habitavam os demônios, conhecidos por sátiros (metade homem, metade animal). Mas também, como vimos, o deserto tornou-se lugar de intimidade e relacionamento com Deus, lugar onde se adquire maturidade espiritual, levando o povo a pensar e agir como povo de Deus;
ESPÍRITO SANTO: aparece como guia de Jesus e dos cristãos na caminhada de fé, o condutor de nossas palavras e ações. Sabemos que há um interesse muito forte em Lucas pelo Espírito de Deus, tanto nesse terceiro evangelho como nos Atos. Aqui em Lc 4,1, vemos mais uma passividade de Cristo, cheio desse Espírito, ele se deixa conduzir. Mesmo na tentação, não estamos sozinhos, Deus sempre nos fortalecerá com essa graça.
DIABO: do grego, “diabolos” = significa “aquele que tenta” (tentador), no hebraico “satã” = “adversário”: é a causa primária de todo pecado e morte, mas como seu nome sugere sua função, quer dizer, que o mal não é responsável pelos nossos pecados, pois este apenas tenta (induz), mas não pode pecar por nós: “Ninguém, ao ser provado, deve dizer: ‘é Deus que me prova’, pois Deus não pode ser provado pelo mal e a ninguém prova (tenta). Antes, cada qual é provado pela própria concupiscência, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, atingindo o termo, gera a morte.” (cf. Tg 1,13-15). Tiago ainda aponta a resistência ao mal como saída para libertação (cf. Tg 4,7), como fez Jesus durante a tentação.
PÃO, PODER e IDOLATRIA (Lc 4,3.6.7): são as três propostas de Satanás a Jesus para tentá-lo durante sua quaresma. Essas três tentações acompanharam toda história de Israel e podemos dizer que foram geradores de grandes desequilíbrios na relação com o Divino, que por sua vez, Deus exigia exclusividade. O que Satanás estava propondo a Jesus, em outras palavras e verificando o “Shemá”, em hebraico, “ouve, escuta” (Dt 6 – 8) nada mais, nada menos que pecar contra o amor de Deus, retirar Deus do seu coração. Essa era a proposta soberba e falida do Tentador ante a humanidade de Cristo.
DETURPAÇÃO DA PALAVRA. Está claro que a principal arma de Satanás para tentar seduzir Cristo foi a própria palavra de Deus, extraída do Salmo 90(91),11s e forçosamente mal empregada: “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito ‘Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, para que te guardem.’ E ainda: ‘E eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.” (Lc 4,9-11). Acabamos de ser catequizados involuntariamente pelo demônio! Ele acaba de ensinar-nos que conhecer a palavra não basta, é preciso ser fiel e praticá-la para que suas palavras não nos confundam. Jesus não faz diferente, se utiliza também da palavra, sobretudo Dt 8,3; 6,13.16.
ORAÇÃO. Segundo Santa Teresinha do Menino Jesus, “A oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu”, em outras palavras, é atividade divina. É falar com Deus, é às vezes pedir, mas antes deixar que Deus penetre em nós, é permanência nEle. Sem uma visão positiva de si é quase impossível se relacionar com a nossa Imagem e Semelhança.
JEJUM. Mais que simples fator externo de ausência de alimentos, é conformação com a vontade e palavra de Deus, é obediência à sua voz que diz: “Não coma deste fruto”, em resposta ao pecado original.
CARIDADE. É o amor cristão, marcado pela incondicionalidade, pela doação de si. A caridade é hoje mal interpretada por dar esmola ou fazer algum gesto de ajuda aos outros. Mais que isso, é a força interior que nos predispõe a entregar a própria vida, a agir conforme o Espírito de Deus. No livro de 1Cor capítulo 13 traz um grande e belo hino à caridade, personificado na pessoa de Jesus. Seria interessante seu conhecimento para se aplicar à própria vida cristã, pois o amor nos caracteriza como discípulos do Senhor.
                Que o amor por Deus e sua Palavra favoreça-nos flexibilidade e docilidade à ação do Espírito Santo e que estes tempos santos da Quaresma e Semana santa nos associem cada vez mais a Nosso Senhor Jesus, tornando-nos instrumentos esclarecidos de seu Evangelho. Que a esperança na ressurreição nos fortaleça e encoraje em todos os momentos da vida.

IRMÃO NACÉLIO LIMA, NJ


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Bíblia de Jerusalém. Paulus: 2004
A REGRA DE SÃO BENTO. Edições Subiaco – Mosteiro da Santa Cruz, Juiz de Fora: 2008.
CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. Ed. Loyola

domingo, 10 de março de 2013

O Sentido da Cruz para o Cristão (1, 2)


Allan Phablo de Queiroz 3


Jamais o mundo viu ou verá um acontecimento como este: o Filho de Deus humanado é crucificado e agoniza durante três horas numa cruz. Três longas horas de dores indizíveis, sofrimentos inenarráveis na pior forma de suplicio que o império romano impunha a seus opositores, bandidos, malfeitores. Esse e o clima que vivemos na semana santa, um tempo de observamos como estamos agindo diante do próximo, se temos caridade ao pobre, se somos capazes de amar ate doer, e é um tempo de vivermos e fazemos memória de todo o acontecimento sofrido por Cristo, que começa nas negações de um dos seus, na fidelidade a sua missão na paixão e após algum tempo acreditando nas promessas ressuscitou e viver em nosso meio. A partir desse contexto que partilho os conhecimentos adquiridos através da vivência e da pesquisa demonstrando o sentido da cruz, o caminho da paixão de Cristo, o as possíveis criticas veneração a santa cruz.
E normal sermos abortado por qualquer pessoa se questionando quando olha para a imagem do crucificado: Por que o Cristo é representado como o homem das dores pregado à cruz, quando na verdade Ele ressuscitou e já não morre mais? A propósito convém observar: A imagem da cruz é indispensável à contemplação do cristão, pois foi o instrumento da Redenção. São Paulo mesmo nos diz: “Não aconteça gloriar-me senão na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. (Gl 5,14) Todavia é preciso não esquecer que a Cruz foi transfigurada pelo fato mesmo de que Jesus pendeu dela e pela sua morte venceu a morte. Por isto os antigos representavam o Cristo fixo à Cruz revestido de uma túnica de rei, com mangas largas e um diadema na cabeça; era o senhor que conquistou a realeza mediante a cruz e fez desta o teu trono de glória.
         O Caminho da cruz era seguido por populares, que escarneciam o réu; A causa da morte era asfixia o sangue não conseguia chegar ao cérebro através do organismo suspenso no patíbulo, concentrava-se no pulmão e acabava impedindo as pulsações do coração. Os condenados a cruz eram vigiados por soldados antes e depois da morte. Os cadáveres ficavam expostos na cruz é as feras e às aves. Foi tudo isso e mais um pouco que os historiadores e cientista conseguiram decifrar através dos estudos com o santo sudário de Turim, tal aponto de dizer que Jesus entrou em agonia no Getsêmani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.
         Muitas religiões alegam que a cruz é um símbolo pagão introduzido no século IV no uso dos cristãos - ora tal afirmação fere a documentação mais antiga do cristianismo, a começar pelos textos bíblicos, que louvaram e exaltavam a santa cruz. Logo nos primeiros séculos os cristãos se persignavam com o sinal da cruz; Os mártires se muniam com esse sinal antes de enfrentar as lutas. Somente após a convenção de Constantino a cruz deixou de ser patíbulo de condenação dos criminosos na vida do império, tornou-se então unicamente o símbolo da vitória de Cristo e o sinal dos cristãos reproduzindo muitas maneiras de artes, liturgia, na piedade particular.
         Eis a fundamental importância do sentido da Cruz, de vermos no Cristo crucificado modelo de santidade, de obediência, o Senhor quis descobrir com a sua morte extremamente dolorosa e ignominiosa, toda modalidade de morte que os homens possam experimentar; sabiam todos que Deus feito homem já atravessou e santificou todas as angustias que afetam os homens. Cristo morreu e ressuscitou a fim de obter para o gênero humano a vitória sobre o pecado e a morte. Por isso que nos cristão levamos em nosso peito não somente um sinal de madeira, prata, mais realmente levarmos aos homens de hoje um Cristo vivo e ressuscitado através de nossos gestos, de nossa fé, na vivência de nossa religião, na radicalidade evangélica a partir dos conceitos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, na abertura aos cuidados como os necessitados, é meus caros leitores, todas as vezes que vejo uma cruz lembro-me de tamanho amor aquele homem teve por mim, de se entregar até os dos mais dolorosos flagelos, de ser cuspidos, ridicularizado somente por amor a mim e a vocês. Pensemos nesse tempo, mergulhemos na memória de um Cristo que nos ama muito.


1 Artigo publicado no Jornal de Fato da Cidade de Mossoró-RN.
2 Disponível: http://www.defato.com/02_04_2010/artigos.php
Aluno de Ciências Sociais na UERN. Modalidade Licenciatura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ECCE AGNUS DEI


            Foram celebrados o Domingo e a Celebração do Batismo do Senhor. Muitos passam por aquela pia que talvez nem represente nada, e vêem, muitas vezes na vida aquela pombinha que para nós lembra o Espírito Santo. Muitos são batizados, porém poucos A porta de entrada para a vida e do Reino, também dos outros Sacramentos, nos lembra o magistério:

“[...] é o primeiro sacramento da nova Lei, que Cristo instituiu para que todos possam alcançar a vida eterna 1 e em seguida, confiou à sua Igreja juntamente com o evangelho, quando ordenou aos apóstolos: “Ide e ensinai a todos os povos: batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” 2. (CNBB, 2010-a, 14)

                        Ainda de acordo com algumas profecias, a porta para a Igreja, em alegoria a entrar pela porta da Igreja novamente e renovar as promessas feitas naquele dia especial de cada um, refere-se à porta do Coração de Cristo, no que diz respeito à maior das graças que um católico pode se submeter. Na noite da Vigília Pascal, é, sem dúvida ainda mais especial, o cristão, agora, maduro e consciente de seu papel na Santa Eucaristia já começa a dizer como Santo Agostinho:

“Resolvi por isso dedicar-me ao estudo das Sagradas Escrituras, para conhecê-las. E encontrei um livro que não se abre aos soberbos e, que também não se revela às crianças; humilde no começo, mas que nos leva aos píncaros e está envolto em mistério, à medida que se vai á frente. Eu era incapaz de nele penetrar ou de baixar a cabeça à sua entrada. O que eu senti nessa época, diante das Sagradas Escrituras, foi bem diferente do que agora afirmo.”. (AGOSTINHO, 2011, 71)

            Mas como uma grande maioria, mesmo depois de batizados, não conquista ciência junto ao Espírito, eis que muito do que se explica sobre o Batismo de Jesus se explicita em obras de comentadores, em estereótipos (de ateus e de agnósticos), em películas enlatadas de cinema (das quais muitas costumam enfeitar o fato, mas há muitos que contam fielmente às Escrituras), em pinturas de museus e Igrejas (que se revelam excelentes catequeses de parede) e na afirmação Sagrada chamada Bíblia, essa cena revela mais ainda hoje “naquela pia onde nascem muitos batizados, porém se tornam maiores do que a criança que ali nasceu de novo” 3, o que o Espírito tem a nos dizer do que naquele dia onde, crianças apenas, sem noção nenhuma do que se passava, em choro espalhafatoso de criança que passa por aquilo que Cristo em sua passagem por aqui também passou. De um certo modo, as crianças no batismo choram, primeiro porque é seu meio de falar até aprenderem a faculdade mental da fala e porque desde o batismo original já estão associados à cruz os cristãos, ou seja, assim como os cardeais vestem vermelho em menção ao sangue que estão dispostos a derramar pela vida do Santo Padre, nós, os cristãos estamos envolvidos em uma missão da qual poucos conseguem sair sem o martírio.
            Como nos deixa bem claro, leituras das catequeses do Papa Bento XVI nos deixam transparecer que o batismo desde cedo revelou a Cristo seu martírio. Ao afirmar João Batista em frase clássica da Escritura, que também figura em Missais Romanos de Pio V até a Reforma Litúrgica do Papa Paulo VI em 1970, “Ecce Agnus Dei, qui tollis peccatta mundi”, em tradução literal do latim, “Este é o cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo” 4, João Batista está colocando seriamente a cruz à sombra do Espírito Santo que o prepara para a missão de três curtos anos e para as três horas das doze de agonia que se seguirão após a Santa Ceia. Mas, porque somos cheios do Espírito quando nos batizamos? Porque a cena do batismo manifesta-se assim que, na comunhão agora com Deus Pai e Filho, este último que “é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro5, e carrega o pecado das multidões6, e o Cordeiro Pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa7” (CIC 608), também nós nos unimos à Pascoa de Cristo, pois “por nascerem com uma natureza humana e decaída pelo pecado original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo (CIC, 1250).
            O teólogo Joseph Ratzinger, afirma claramente em sua obra Jesus de Nazaré 1, que o batismo nos deixa a suspeita nos evangelhos (lógico, que quem se depara pela primeira vez com as Escrituras), a menção pelo menos honrosa do Cordeiro. Assim como no Êxodo, o sangue do cordeiro inibiu o Anjo da Morte na décima e pior das dez pragas egípcias8, o sangue de um cordeiro em forma de homem suspenso no alto de uma cruz na festa da Páscoa, na cidade de Jerusalém inibe a morte de devastar o que já era em suma, levado pelo vento sem cura. O sacrifício humilhante a que se submeteu o Senhor, em sua obediência serena ao Pai, fez ressuscitar a muitos santos de seu sono, a fim de testemunharem a elevação do filho de Deus8, assim como Moisés elevou a serpente no deserto10. Nas palavras do Papa:

“A palavra acerca do “Cordeiro de Deus”, interpreta, se assim podemos dizer, o caráter teológico do batismo de Jesus, já iluminado a partir da cruz, da sua descida na profundidade da morte. (RATZINGER, 2007, 37).

            O Cordeiro que por nós se entregou foi batizado adulto. De certo modo, é sempre conveniente para os cristãos repetirem os votos feitos por seus pais e seus padrinhos no dia do seu batismo, já em idade de discrição. São muito poucos os que depois de aproximadamente quinze anos se lembram de fazer este ritual na Solenidade do Batismo do Senhor. Lembra-nos o magistério:

“Fiéis são os que, incorporados a Cristo pelo batismo, foram constituídos como povo de Deus e assim, feitos participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, são chamados a exercer, segundo a condição própria de cada um, a missão que Deus confiou para a Igreja cumprir no mundo.” (CNBB, 2010-b, 76).

            “Quero ser como fui batizado, eleito, provado e chamado”11. São versos muito bonitos para uma canção católica, porém seria ótimo se esses versos fossem cantados na maior harmonia com a vida real, de modo que um dia, mesmo que utopicamente possamos ouvir da boca dos verdadeiros cristãos que a vitória chegou por meio de Cristo. Ou como afirma um trecho de uma obra, fechando nossa discussão:

“Essa vitória sobre o pecado refulge primeiro no Batismo, pelo qual o velho homem é crucificado com Cristo para que, destruído o corpo do pecado, já não sirvamos ao pecado, mas ressuscitados com Cristo, vivamos para Deus.” (NUCAP, 2012, 104).

            Aos catecúmenos, que se batizarão na Vigília Pascal, só nos resta torcer pela sua fé e orar, para que renasçam novos Cristos e novas vidas restauradas por “aquela pia de onde renascem muitos meninos, dos quais, poucos se tornam maiores do que as crianças que renasceram ali” por fé de seus pais e seus padrinhos.


Pedro Augusto de Queiroz
Bacharelando do 6º Período de Ciências Sociais da UERN


Notas:
1 Jo 3,5.
2 Mt 28,19.
3 OLIVEIRA, José Fernandes de.  O CRISTO DO MEU BATISMO. São Paulo, Panorâmico, 1972, (Disco).
4 Jo 1, 29.
5 cf Is 53,7; Jr 11, 19.
6 cf Is 53,12.
7 cf Is Ex 12, 3-14; Jo 19, 36.
8 cf Ex 12, 1-30
9 cf Mt 27, 52-53
10 cf Nm 21, 8-9
11 OLIVEIRA, José Fernandes de.  DESSA VEZ É PRA VALER. In: CANTIGAS DE TERNURA E PAZ. São Paulo, Paulinas-COMEP, 1996, (Disco-CD). (Coleção “A Canção e a Mensagem”, vol. 6).



Referências Bibliográficas:

CNBB (org.). Código de Direito Canônico. 11 ed. São Paulo, Loyola, 2010-a.

CNBB (org.). Ritual do Batismo de Crianças. 6 ed. São Paulo, Paulus, 2010-b.

NUCAP (Núcleo de Catequese Paulinas). PASTRO, Cláudio. Iniciação á Liturgia. São Paulo, Paulinas, 2012.

AGOSTINHO, Santo. Livro III: Jovem Estudante. In: Confissões. 6 ed. São Paulo, Paulus, 2011.

CNBB (org.). Catecismo da Igreja Católica – CIC. 9 ed. Loyola, 2011.

RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Do Batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2007.