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quinta-feira, 28 de março de 2013

O CAMINHO DA CRUZ (II Parte)



            Quinta-Feira Santa, uma casa e uma sala. Nesta sala, doze pessoas e seu mestre. Dali a alguns instantes, uma bacia e uma toalha. Do ponto de vista mais humilde, o lava-pés é um dos acontecimentos mais cotados da vida de Cristo para a nossa. Lavar os pés dos companheiros é simplesmente um ato de humildade e de fé. Não que precisemos inicialmente catar pedintes na rua e lhes confortar a falta que o dinheiro lhes transmite, mas suavizar as faltas que os outros têm do amor de Cristo. Como? Servindo-os.
            A narrativa começa dizendo que Jesus os reuniu para a Ceia (Jo 13, 1-3; Mc 14, 12-17; Mt 26, 17-20; Lc 22, 7-13). Foi também nestes dias que um dos amigos mais próximos de Cristo, que depois seria considerado o símbolo dos traidores. Quando Judas Iscariotes, segundo a passagem afirma que por orientação e tentação assentida do demônio, o discípulo traiu o mestre (Lc 22, 3-6). Já por volta da noite, o sentido da Páscoa de Moisés já ganharia um novo trecho de significado, ou seja, o sentido da Instituição da Eucaristia.
            A missa do Lava-Pés tem um sentido imaterial para os cristãos. Jesus se inclina e faz um serviço que muitos deles não entenderam a princípio (Jo 13, 7). Os mais entendidos de Teologia podem conferir com seus próprios olhos a ligação que existe entre o lava-pés que é realizado nos templos pelos Bispos ou por um Sacerdote e entre aquele fato que reconstruímos desde o século XVI com a instauração do Rito da Missa pelo Papa São Pio V. Se bem que de acordo com a vontade do céu, os anjos e os santos estão presentes em todas as missas formando um verdadeiro Apocalipse invisível.
            Do ponto de vista litúrgico, a Eucaristia é celebrada originalmente em duas datas, na Quinta Santa e no Corpus Christi, porém a data na qual nos centramos é exatamente a quinta santa. Neste dia também, os catecúmenos (pelo menos os da paróquia da Catedral) recebem a sua Primeira Eucaristia e se valem desta para começar a conhecer a presença de Cristo dentro de nós. Como que num esforço maior para entendermos este primeiro mistério, não nos cabe saber o que está por trás do rito ou o que está realmente acontecendo quando da elevação da Santa Hóstia para consagração.
            Sabemos exato que Cristo está ali naquele momento em presença, em espírito e em verdade. E depois que comungamos, dentro de nós. Assim como já somos a Igreja do Pai e Templo do Espírito Santo, viramos também o Sacrário que foi Nossa Senhora e também com a mesma função do Sacrário que se usa para guardar as hóstias na Igreja. Não necessitamos nos ajoelhar (a não ser por uma questão estritamente de respeito) ao Santíssimo ou à Âmbula com as espécies consagradas sobrantes após a comunhão. Já somos o Sacrário vivo de Cristo.
            Voltando ao Rito, chamado de Transubstanciação, a Hóstia é elevada aos céus, e assim nos relembra, pelas palavras do Missal Romano do Venerável Papa Paulo VI1 (em nossa língua) em seus catorze Canons (Oração Eucarística), e em seus muitos prefácios a Narrativa da Instituição, que nos faz relembrar tal fato. O centro de nossa fé está chegando ao seu auge, porém, ainda é cedo para ser o auge da história. Nosso ponto alto ainda chegará. Na missa, se repete o Cristo fez para se recordar como ele mesmo pediu (Mc 14, 22-24; Lc 22, 15-19; Mt 26, 26-28).
            Como diz a letra de Dom Carlos Alberto Navarro, “Para lembrarmos a morte e a cruz do Senhor, nós repetimos como ele fez, gestos e palavras até que volte outra vez”.2 Interessantemente, João não chega a relatar o acontecido com tantos detalhes como os outros evangelistas, porém deixa a lição do Amor fraterno que Jesus pediu e de onde duas canções nos lembram constantemente que amor é esse, embora bem já caídas no ostracismo da modernização do hinário litúrgico:

[...] Pra sempre convosco estarei, em mim colocai vosso ser. Pois nada podeis realizar se eu não vos der o poder. Assim como o Pai me amou, assim também Eu vos amei, só isto importa fazer, amor com amor devolvei. Todo mundo verá que Eu sou vosso mestre. Se souberdes amar como eu vos amei, como eu vos amei. Não quero chamar-vos de servos, amigos assim vos chamei, pois tudo o que ouvi de Meu Pai, confiante vos comuniquei. Na busca constante da luz, será vosso guia o amor, vereis a verdade total, vereis face a face o Senhor. (RICCIARDI fsp, 1982). 3

Todos saberão que somos de Cristo se nos amarmos, se nos amarmos uns aos outros. Deus habita quem vive a caridade, pois Deus é caridade. O Pai nos amou com tanto amor, que para nossa vida enviou o seu filho amado. Esta é a maravilha do amor, foi Deus que nos amou por primeiro. As trevas que sofremos passarão e brilhará para nós a verdadeira luz. (ALVES, 1969). 4


            Este amor é a Lei do Reino de Deus. A oferta apresentada no altar em forma de pão e de vinho é por nós conduzida ao coração por meio da comunhão. Também costumamos comemorar o dia da instituição do sacerdócio, já que a fórmula principal da comunhão é extraída da própria Santa Ceia. Os sacerdotes abençoam junto com o Bispo, e no caso de Roma, os Cardeais junto com o Papa os santos óleos da Crisma, da Unção dos Enfermos e do Batismo.
            Vamos acompanhar com fé esta semana santa a fim de que por nós mesmos adiantemos a festa que apesar do silêncio que ronda a sexta e meio-sábado, vamos nos preparar para pegar carona no peso da cruz que Cristo carregou. Unamo-nos à sua agonia nesta noite durante a Adoração do Santíssimo nas paróquias de nossa cidade, lembrando a agonia no Horto e sua prisão. Jesus nos deixa seu exemplo. Vamos contemplar sua santidade na sexta-feira quando sua entrega ultrapassa todo e qualquer sacrifício que possamos imaginar.


PEDRO AUGUSTO DE QUEIROZ
Bacharelando do 6° Período de Ciências Sociais da UERN

1 CNBB (org.). Missal Romano. São Paulo, Paulus: 1993.

2 NAVARRO, Dom Carlos Alberto (Letra). FARIAS, Waldeci (Música). Antes da Morte (Canto de Entrada). In: Eu Sou Vossa Páscoa. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1983. (Disco) [Coleção “Discos de O Domingo”].

3 RICCIARDI fsp, Irmã Maria Luiza Perdoso. Todo Mundo Verá. In: Ninguém Falou como Esse Homem. São Paulo, Edições Paulinas Discos: 1982. (Disco).

4 ALVES José. Todos Saberão. In: Campanha da Fraternidade 1970: Ser Cristão é Participar. São Paulo, Gravação Independente sob encomenda da CNBB: 1970. (Disco). Também pode ser achada no compacto da Campanha da Fraternidade de 1969 (Para o Outro o Próximo é Você), porque o disco da campanha foi reaproveitado no ano seguinte pela semelhança dos temas.

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