Pedro Augusto de Queiroz Ferreira / UERN 1
Um
homem galileu comum, um jumentinho, dezenas de outras pessoas que gritam com
ramos nas mãos e panos no chão passeiam pela porta de Jerusalém. O galileu
consciente de que está cumprindo a vontade do Pai, a multidão consciente de que
o messias esperado chegou e que desta vez irá detonar o império romano para
sempre. O que eles não sabiam era interpretar as Escrituras. Zacarias já afirmava
isso antes e o povo não o compreendeu:
Dance
de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o
seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento,
num jumentinho, filho de uma jumenta. (Zc 9, 9).
O
povo acreditava em um Messias que
arrebentasse as bases do império de césar, porém o que eles receberam foi um
messias que em humildade se aproximou deles como um rei que procura sempre
estar perto do seu povo. E os fariseus, vendo aquilo, acharam que pela ordem
que vigorava, Jesus havia chegado com todas as forças para provocar uma
rebelião, já que Jesus sempre desaparecia quando o povo o chamava de Rei no
meio da multidão ou quando realizava milagres em público.
Por
acharem que por Jesus estar apoiando e aceitando que o aclamassem Rei,
estivesse ele talvez planejando a armadilha suprema contra o templo ou contra a
festa da Páscoa, interferiram ele: “No meio da multidão, alguns fariseus
disseram a Jesus: "Mestre, manda que teus discípulos se calem. (Lc 19, 39)”
e Jesus lhes responde uma frase enigmática, que tem mais sentido hoje do que
naquele tempo: “Eu digo a vocês: se eles se calarem, as pedras gritarão.” (Lc 19,
40).
Os
fariseus devem ter imaginado tudo, menos que Deus pudesse se manifestar contra a
lei seca e ao mesmo tempo mal praticada deles de tal forma que até mesmo pelas
pedras pudesse glorificar o Seu filho amado. O que o povo estava fazendo
poderia ser mesmo em um sentimento de renovação política, porém o que os
fariseus não sabiam era que desta vez Jesus estava confiante na vontade do Pai
em que o povo o aclamasse Rei, embora em dentro de cinco penosos dias terminasse
onde terminou.
Jesus
era um profeta que não lidava diretamente com a política, e sim com as
atitudes, não destruía a lei, mas mostrava os erros de quem a mal praticava. Os
fariseus ao ouvirem a resposta de Jesus (Lc 19, 40) nem imaginavam que se
realmente o povo se calasse, as pedras poderiam gritar. Fica um recado para a
nossa realidade de hoje, em que muitos louvam e muitos ficam apenas vendo a fé
alheia e não têm coragem de se juntar à nossa fé. Às vezes, as pedras são os
que ficam atrás de nós para nos substituir quando cansamos, ou seja, se nós nos
calarmos por falta de fé e por falta de estímulo, Deus colocará sempre outros
para louvá-lo e para direcionar o seu coração a Ele.
Os
fariseus são os que tentam nos calar, e é claro que isso é muito comum nos nossos
dias, já parou para pensar no quanto os nossos próprios irmãos nos levam a muitas
vezes buscar caminhos errados e a
procurar tudo, menos o que realmente precisamos procurar, o caminho de Deus? O povo gritando e louvando são muitos dos nossos
irmãos, que mesmo sem ter muita noção de religião, têm sempre um forte caráter
de política e de atualidades que é uma beleza. Sabem que estão na Santa Missa
para comemorar algo ou alguém e sabem que esse alguém tem todo o poder para
mudar suas vidas, porém são vazios de conteúdo porque não sabem que o alguém que eles estão comemorando não
vem a acudir todas as mazelas que ficaram dos tempos dos erros do Cristianismo ou
os que se acham justos de receber a graça, porém aos cujos corações se acharem
dignos de serem atendidos:
Nem
todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor', entrará no Reino do Céu. Só entrará
aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu. Naquele dia
muitos me dirão: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi
em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos
milagres?” Então, eu vou declarar a eles: “Jamais conheci vocês. Afastem-se de
mim, malfeitores!” “Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em
prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.” (Mt 7,
21-24).
Portanto,
prestai atenção, nem todo aquele que o chamar com a boca de Senhor e sim quem o chamar com o coração
é que merecerá a honra de repetir o gesto da plateia da entrada triunfal
original em Jerusalém. Naquele tempo, a festa da antiga Páscoa estava sendo preparada. Com a entrada de Jesus em
Jerusalém, a Páscoa ganha outro sentido totalmente novo, mas isso é assunto
para o Domingo da Ressurreição. Por ocasião de seu advento na cidade santa, os judeus
que viajavam mais cedo eram sempre curiosos de saber se sua presença seria
mesmo confirmada. Ao entrar em Jerusalém, aí é que o paradoxo maior de sua
história começa a se desenrolar.
Seus
amigos mais próximos começam a revelar seu lado mais esquivo, os fariseus
começam como nunca a persegui-lo, e o mais irônico de tudo, cinco dias depois
de ser aclamado rei, a multidão viu se cumprir o que dizia Jesus tempos antes:
Ninguém
subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu. Como
Moisés levantou a serpente no deserto. para que todo homem que nele
crer tenha a vida eterna. Com efeito, de tal modo Deus amou
o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça,
mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 13-16).
Nem
os discípulos, nem os fariseus, nem mesmo os judeus entenderam de primeira esta
mensagem, porém hoje nós entendemos que por meio da serpente de bronze, enroscada
na união entre a trave e o patíbulo, chamada na época dos romanos de Cruz (que para nós hoje é o símbolo de
seguir ao Mestre), é que ele deveria ser elevado
a vista de todos. Qual não foi a surpresa dos discípulos e a angústia de Nossa
Senhora ao descobrirem o que realmente o aguardava depois da Santa Ceia. O
Domingo de Ramos nos permite começar uma semana de lembrança, que além do
sofrimento, nos lembra que principalmente é preciso assumir depois da entrada
triunfal uma preparação radical para morrer ao mundo e ressuscitar para o Pai.
A
tradição dos ramos (e mesmo da semana santa) veio surgindo ao longo das eras de
modo que foi-se incorporando ao nosso calendário. Época de reflexão e de
cânticos que refletem essa data, como “Louvor a Vós, Ó Cristo Rei” 1,
“Recebe este Canto do Chão” 2 ou “Hosana Hey” 3, que já é
a tradicional nas missas deste dia. A manifestação de cunho político para uns,
de objetivo Divino para pouquíssimos e de objetivo reacionário do ponto de
vista da maioria. O que decerto não poderia dar muito certo, mas era vontade de
Deus. Refletimos hoje o real significado e deixamos a pergunta: O que você
enxerga no ato do Domingo de Ramos hoje?
REFERÊNCIAS:
1 Bacharelando do 6° Período de Ciências Sociais da UERN.
2 Letra extraída do Lecionário Dominical*. Música de Eurivaldo S. Ferreira. Louvor a Vós, ó Cristo Rei. In: Liturgia XIV. São Paulo, Paulus, 2004. (CD).
2 Letra extraída do Lecionário Dominical*. Música de Eurivaldo S. Ferreira. Louvor a Vós, ó Cristo Rei. In: Liturgia XIV. São Paulo, Paulus, 2004. (CD).
3
Letra de Geraldo Leite. Música de Pe. Reginaldo Veloso. Recebe este Canto do Chão. In: Idem.
4
Letra e Música de Roberto Malvezzi. Hosana Hey. In: Hosana Hey. São Paulo, Panorâmico,
1978. (LP).
* CNBB (org). Lecionário I: Dominical. São Paulo: Paulus, 1993.
* CNBB (org). Lecionário I: Dominical. São Paulo: Paulus, 1993.