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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

IRMÃS DO POVO

            Elas são nossas irmãs e não nos damos conta. São mais responsáveis (juntamente com os Padres e os Bispos) por levar fé aos filhos de Deus. As Irmãs, as Freiras, as Consagradas Pobres por amor àquele em quem o povo procura a Paz. Irmãs do Povo deveria ser o nome dado a esses exemplos que tanto nos fascinam e nos deixam sem palavras. A precisão delas nos inspira a não simplesmente sermos acompanhantes de seu trabalho e sim de aprender com elas a sermos mais santos, pois elas, em sua simplicidade fizeram uma escolha mais corajosa do que nós que nos dizemos cristãos, aceitaram uma relação de puro espírito e de entrega total ao Evangelho de Jesus Cristo, coisa que para nós católicos, geralmente não sai da velha e costumeira liturgia da missa. O mundo em que vivemos já foi cheio de exemplos como São Francisco, Santo Agostinho, Santa Luzia, Santa Terezinha e o Padre Pio, mas nenhum chamou tanta atenção e foi mais silenciado pelos que acreditam no mundo e em seus caprichos do que as religiosas dos nossos dias. Como diz o Pe. Zezinho SCJ em uma de suas tantas melodias, “Que todos os religiosos, todas as religiosas saibam viver de maneira que o povo fiel não se sinta abandonado por Deus” ¹, as religiosas têm o dever de interceder pelos fieis e ser exemplo, mesmo em sua vida que mais parece aos olhos de desconhecidos ou dos nossos vizinhos protestantes “mais desregrada que a dos soltos”. Vinte anos antes, outra melodia do Pe. Zezinho SCJ fazia homenagem à real vocação das irmãs que se fizeram pobres por amor ao Reino aqui transcrita a partir do encarte do compacto original: “Porque Jesus falou / Porque Jesus pediu / Porque Jesus deu o exemplo / Da minha vida eu também compartilhei / E me fiz sinal do Reino / E desde então eu já não vivo / Senão daquele que eu amei / Refrão 1: Pobre pelo Reino de Jesus / Não tenho nada que seja meu / Senão este desejo de servir / Refrão 2: Faço aquilo que devo fazer / Nem sempre faço o que me agrada / Por causa deste povo que eu amei / Refrão 3: Já não tenho amor que seja meu / A minha força de amar está / Voltada para o Reino de meu Deus.” ² Não sei o que esta melodia pode causar em quem não pode entender a necessidade delas de sair de si para ajudar o povo a ser mais fiel e a ter mais fé. Elas têm muito mais coragem de assumir a missão, pois se conservam em clausuras como as Clarissas do Mosteiro Fraternidade de São Francisco, que para muitos parece um isolamento, mas para quem entende e as ama, é simplesmente uma casa que chama atenção pela ausência de companhias terrenas, para quem tem bons olhos, perceba que Deus está ali mais do que somente elas mesmas. Elas também são responsáveis pela divulgação do Evangelho do que se imaginam, pois as Irmãs Paulinas da Pia Sociedade das Filhas de São Paulo fundadas pela Venerável Irmã e Mestra Tecla Merlo e pelo Beato Pe. Tiago Alberione, foram as pioneiras em Música Católica Popular revelando os maiores anunciadores do Evangelho já conhecidos como Pe. Zezinho SCJ, Irmã Míria Therezinha Kolling, Pe. Luiz Augusto Passos SJ e tantos outros, e recentemente, no meu aniversário, em 3 de junho de 2011, tive a honra de conhecer uma delas pessoalmente (visto que as admiro muito e sempre dou divulgação aos seus trabalhos aos amigos), tratava-se da pedagoga e teóloga Irmã Maria Inês Carniato FSP e pude beber de um pouco de sua sabedoria. Mas não precisamos ir tão longe para perceber o bem que elas fazem, em Mossoró, as irmãs do Colégio Sagrado Coração de Maria, franciscanas por amor àquele em quem acreditam, seguem e tentam apresentar aos que por ali passam. Irmã Therezinha conduzindo os alunos da matéria de Relações Humanas; Irmã Gisélia e atualmente Irmã Lucilene investindo em crianças desde cedo para compor o coral de Louvor dos Pequeninos já bem conhecido na cidade, e de onde, Irmã Gisélia, em um momento de inspiração no colégio, cantou aquilo que seria um resumo de sua missão em versos simples e ainda assim chamativos: “Eu sou feliz porque meu Cristo quer / Eu canto a Deus porque meu cristo quer / Eu louvo a Deus porque meu Cristo quer / Louvar a Deus não é coisa qualquer / Eu louvo a Deus, porque meu Cristo quer.”³ Para nós, o papel de uma irmã religiosa não se resume a um hábito e um ambiente monástico, mas para muitos, nem isso chega a ser. Um dos exemplos que eu mais admiro é o papel que teve e tem a Irmã Aparecida, que administrava o mesmo colégio até a alguns anos até seu falecimento, notícia que se espalhou por toda a cidade e causou uma comoção considerável que até mesmo desconhecidos na cidade declararam luto. O papel dela foi simplesmente impulsionar a devoção do alemão Pe. José Kentenitch e sua Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt em toda a cidade de Mossoró no início da década de 1990, e por que não dizer no resto do estado? Afinal, a devoção cresceu a partir de seu maior sonho, a Casa da Mãe Rainha que fica por trás da Matriz de São José, uma capela pequena em proporções, mas grande em amor, o que faz com que a fé se renove diante da glória que se construiu lá. O legado de outra irmã se destaca também, o de Irmã Hellen, que administra o Lar da Criança Pobre de Mossoró, recentemente tendo anunciado um possível fechamento da organização, houve também possibilidade de mobilização. Mas acima de tudo, elas são comprometidas com o crescimento dos seus mais próximos, pois exemplos não faltam, falta quem os siga. E àquelas irmãs que largaram o hábito, simplesmente não deixaram de amar, apenas precisavam de um tempo para refletir melhor, visto que a maioria que larga o hábito sempre volta a enxergar a religião de outro jeito e encontra novamente a casa de braços abertos a recebe-la. E não podemos esquecer das Missionárias da AIS4 Mundial em suas missões na África e na Ásia cujo trabalho monumental resultou na publicação de mais de um milhão de Bíblias Infantis, as famosas bíblias vermelhas ilustradas que se distribui nas escolas todos os anos, um verdadeiro projeto de evangelização. A todas as irmãs que fazem um Reino melhor no mundo e levam um mundo melhor ao Reino, força para continuar esta missão como Jesus que tanto ensinou e foi condenado a carregar sua cruz, Fé para caminhar, caindo por Terra algumas vezes como Jesus em sua paixão, mas nunca parando a ponto de envelhecer naquele pedaço de caminho, principalmente amor, para no dia derradeiro, conseguirem abrir os braços e serem pregadas numa cruz abraçando e perdoando seus assassinos, e no fim de tudo muita Paz para ressuscitar como Cristo que ressurgiu em Luz e Glória ao terceiro dia. Por elas, o Reino se prepara.

Pedro Augusto de Queiroz
Bacharelando do 4° Período de Ciências Sociais da UERN


Notas:

¹ ZEZINHO SCJ, Padre. Oração pela Igreja. In:_________. Orações para quem não reza. São Paulo, Comep,1993 (LP).

² ___________. Religiosa. In: Tenho muito amor. São Paulo, Edições Paulinas, 1973 (EP/Compacto).

³ Direitos Reservados (Autor Desconhecido). Eu sou feliz. In: MARIA, Padre Antônio. Festa da Fé. São Paulo, Columbia (Sony Music), 1999 (CD).

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CAPELINHA DE NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

Ladeada pela "micro-praça" Miguel Faustino, próxima à Micro-Center no Centro, a pequena Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro abriga em seu interior simples um refúgio para a alma. Toda as terças-feiras às 19 horas, se celebra a "Hora da Graça", um pequeno ritual onde pede-se pelo mundo, pelas pessoas e onde se reúnem os devotos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

A capela não tem pároco fixo e pertence à Paróquia da Catedral. Recentemente se tornou o ponto de encontro como última parada da procissão do Senhor Morto na Sexta-Feira Santa, tendo a imagem saído da Catedral, será deixada lá até a noite do Sábado de Aleluia. A capela também tem seu lado curioso, comumente usada para velórios, é a capela que mais recebe finados antes do sepultamento para velórios, sendo conhecida (na cidade) como a "Capela dos Velórios" ou a "Capela dos Finados".

Mas além disso, os devotos acham neste santuário um motivo ideal para se refugiar no Manto de Nossa Senhora, uma boa sugestão de visita a quem vem a Mossoró ou simplesmente a quem simplesmente quer conhecer o patrimônio religioso da cidade.

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA (retábulo direito) 

CRUCIFIXO (retábulo esquerdo)

 NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO (ângulo direito)

NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO (ângulo diagonal esquerdo) 

 NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO (ângulo frontal)

ALTAR COM FIEIS 

 CAIXA DAS VELAS

VELAS,  SÍMBOLO DA FÉ

QUADRO DOADO POR FIEIS 

domingo, 1 de janeiro de 2012

MENSAGEM DE BENTO XVI PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ 2012

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
BENTO XVIPARA A CELEBRAÇÃO DO
XLV DIA MUNDIAL DA PAZ
1 DE JANEIRO DE 2012

EDUCAR OS JOVENS PARA A JUSTIÇA E A PAZ
1. O INÍCIO DE UM NOVO ANO, dom de Deus à humanidade, induz-me a desejar a todos, com grande confiança e estima, de modo especial que este tempo, que se abre diante de nós, fique marcado concretamente pela justiça e a paz.
Com qual atitude devemos olhar para o novo ano? No salmo 130, encontramos uma imagem muito bela. O salmista diz que o homem de fé aguarda pelo Senhor « mais do que a sentinela pela aurora » (v. 6), aguarda por Ele com firme esperança, porque sabe que trará luz, misericórdia, salvação. Esta expectativa nasce da experiência do povo eleito, que reconhece ter sido educado por Deus a olhar o mundo na sua verdade sem se deixar abater pelas tribulações. Convido-vos a olhar o ano de 2012 com esta atitude confiante. É verdade que, no ano que termina, cresceu o sentido de frustração por causa da crise que aflige a sociedade, o mundo do trabalho e a economia; uma crise cujas raízes são primariamente culturais e antropológicas. Quase parece que um manto de escuridão teria descido sobre o nosso tempo, impedindo de ver com clareza a luz do dia.
Mas, nesta escuridão, o coração do homem não cessa de aguardar pela aurora de que fala o salmista. Esta expectativa mostra-se particularmente viva e visível nos jovens; e é por isso que o meu pensamento se volta para eles, considerando o contributo que podem e devem oferecer à sociedade. Queria, pois, revestir a Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa: « Educar os jovens para a justiça e a paz », convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo.
A minha Mensagem dirige-se também aos pais, às famílias, a todas as componentes educativas, formadoras, bem como aos responsáveis nos diversos âmbitos da vida religiosa, social, política, económica, cultural e mediática. Prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção dum futuro de justiça e de paz não é só uma oportunidade mas um dever primário de toda a sociedade.
Trata-se de comunicar aos jovens o apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de consumá-la ao serviço do Bem. Esta é uma tarefa, na qual todos nós estamos, pessoalmente, comprometidos.
As preocupações manifestadas por muitos jovens nestes últimos tempos, em várias regiões do mundo, exprimem o desejo de poder olhar para o futuro com fundada esperança. Na hora actual, muitos são os aspectos que os trazem apreensivos: o desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para enfrentar a realidade, a dificuldade de formar uma família e encontrar um emprego estável, a capacidade efectiva de intervir no mundo da política, da cultura e da economia contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais humano e solidário.
É importante que estes fermentos e o idealismo que encerram encontrem a devida atenção em todas  as componentes da sociedade. A Igreja olha para os jovens com esperança, tem confiança neles e encoraja-os a procurarem a verdade, a defenderem o bem comum, a possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver « coisas novas » (Is 42, 9; 48, 6).
Os responsáveis da educação
2. A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida. Educar – na sua etimologia latinaeducere – significa conduzir para fora de si mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa. Este processo alimenta-se do encontro de duas liberdades: a do adulto e a do jovem. Isto exige a responsabilidade do discípulo, que deve estar disponível para se deixar guiar no conhecimento da realidade, e a do educador, que deve estar disposto a dar-se a si mesmo. Mas, para isso, não bastam meros dispensadores de regras e informações; são necessárias testemunhas autênticas, ou seja, testemunhas que saibam ver mais longe do que os outros, porque a sua vida abraça espaços mais amplos. A testemunha é alguém que vive, primeiro, o caminho que propõe.
E quais são os lugares onde amadurece uma verdadeira educação para a paz e a justiça? Antes de mais nada, a família, já que os pais são os primeiros educadores. A família é célula originária da sociedade. « É na família que os filhos aprendem os valores humanos e cristãos que permitem uma convivência construtiva e pacífica. É na família que aprendem a solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro ».[1] Esta é a primeira escola, onde se educa para a justiça e a paz.
Vivemos num mundo em que a família e até a própria vida se vêem constantemente ameaçadas e, não raro, destroçadas. Condições de trabalho frequentemente pouco compatíveis com as responsabilidades familiares, preocupações com o futuro, ritmos frenéticos de vida, emigração à procura dum adequado sustentamento se não mesmo da pura sobrevivência, acabam por tornar difícil a possibilidade de assegurar aos filhos um dos bens mais preciosos: a presença dos pais; uma presença, que permita compartilhar de forma cada vez mais profunda o caminho para se poder transmitir a experiência e as certezas adquiridas com os anos – o que só se torna viável com o tempo passado juntos. Queria aqui dizer aos pais para não desanimarem! Com o exemplo da sua vida, induzam os filhos a colocar a esperança antes de tudo em Deus, o único de quem surgem justiça e paz autênticas.
Quero dirigir-me também aos responsáveis das instituições com tarefas educativas: Velem, com grande sentido de responsabilidade, por que seja respeitada e valorizada em todas as circunstâncias a dignidade de cada pessoa. Tenham a peito que cada jovem possa descobrir a sua própria vocação, acompanhando-o para fazer frutificar os dons que o Senhor lhe concedeu. Assegurem às famílias que os seus filhos não terão um caminho formativo em contraste com a sua consciência e os seus princípios religiosos.
Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar activamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna.
Dirijo-me, depois, aos responsáveis políticos, pedindo-lhes que ajudem concretamente as famílias e as instituições educativas a exercerem o seu direito-dever de educar. Não deve jamais faltar um adequado apoio à maternidade e à paternidade. Actuem de modo que a ninguém seja negado o acesso à instrução e que as famílias possam escolher livremente as estruturas educativas consideradas mais idóneas para o bem dos seus filhos. Esforcem-se por favorecer a reunificação das famílias que estão separadas devido à necessidade de encontrar meios de subsistência. Proporcionem aos jovens uma imagem transparente da política, como verdadeiro serviço para o bem de todos.
Não posso deixar de fazer apelo ainda ao mundo dos media para que prestem a sua contribuição educativa. Na sociedade actual, os meios de comunicação de massa têm uma função particular: não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre educação e comunicação: de facto, a educação realiza-se por meio da comunicação, que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa.
Também os jovens devem ter a coragem de começar, eles mesmos, a viver aquilo que pedem a quantos os rodeiam. Que tenham a força de fazer um uso bom e consciente da liberdade, pois cabe-lhes em tudo isto uma grande responsabilidade: são responsáveis pela sua própria educação e formação para a justiça e a paz.
Educar para a verdade e a liberdade
3. Santo Agostinho perguntava-se: « Quid enim fortius desiderat anima quam veritatem – que deseja o homem mais intensamente do que a verdade? ».[2] O rosto humano duma sociedade depende muito da contribuição da educação para manter viva esta questão inevitável. De facto, a educação diz respeito à formação integral da pessoa, incluindo a dimensão moral e espiritual do seu ser, tendo em vista o seu fim último e o bem da sociedade a que pertence. Por isso, a fim de educar para a verdade, é preciso antes de mais nada saber que é a pessoa humana, conhecer a sua natureza. Olhando a realidade que o rodeava, o salmista pôs-se a pensar: « Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que Vós criastes: que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para com ele Vos preocupardes? » (Sal 8, 4-5). Esta é a pergunta fundamental que nos devemos colocar: Que é o homem? O homem é um ser que traz no coração uma sede de infinito, uma sede de verdade – não uma verdade parcial, mas capaz de explicar o sentido da vida –, porque foi criado à imagem e semelhança de Deus. Assim, o facto de reconhecer com gratidão a vida como dom inestimável leva a descobrir a dignidade profunda e a inviolabilidade própria de cada pessoa. Por isso, a primeira educação consiste em aprender a reconhecer no homem a imagem do Criador e, consequentemente, a ter um profundo respeito por cada ser humano e ajudar os outros a realizarem uma vida conforme a esta sublime dignidade. É preciso não esquecer jamais que « o autêntico desenvolvimento do homem diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em todas as suas dimensões »,[3] incluindo a transcendente, e que não se pode sacrificar a pessoa para alcançar um bem particular, seja ele económico ou social, individual ou colectivo.
Só na relação com Deus é que o homem compreende o significado da sua liberdade, sendo tarefa da educação formar para a liberdade autêntica. Esta não é a ausência de vínculos, nem o império do livre arbítrio; não é o absolutismo do eu. Quando o homem se crê um ser absoluto, que não depende de nada nem de ninguém e pode fazer tudo o que lhe apetece, acaba por contradizer a verdade do seu ser e perder a sua liberdade. De facto, o homem é precisamente o contrário: um ser relacional, que vive em relação com os outros e sobretudo com Deus. A liberdade autêntica não pode jamais ser alcançada, afastando-se d’Ele.
A liberdade é um valor precioso, mas delicado: pode ser mal entendida e usada mal. « Hoje um obstáculo particularmente insidioso à acção educativa é constituído pela presença maciça, na nossa sociedade e cultura, daquele relativismo que, nada reconhecendo como definitivo, deixa como última medida somente o próprio eu com os seus desejos e, sob a aparência da liberdade, torna-se para cada pessoa uma prisão, porque separa uns dos outros, reduzindo cada um a permanecer fechado dentro do próprio “eu”. Dentro de um horizonte relativista como este, não é possível, portanto, uma verdadeira educação: sem a luz da verdade, mais cedo ou mais tarde cada pessoa está, de facto, condenada a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, da validez do seu compromisso para construir com os outros algo em comum ».[4]
Por conseguinte o homem, para exercer a sua liberdade, deve superar o horizonte relativista e conhecer a verdade sobre si próprio e a verdade acerca do que é bem e do que é mal. No íntimo da consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz o chama a amar e fazer o bem e a fugir do mal, a assumir a responsabilidade do bem cumprido e do mal praticado.[5] Por isso o exercício da liberdade está intimamente ligado com a lei moral natural, que tem carácter universal, exprime a dignidade de cada pessoa, coloca a base dos seus direitos e deveres fundamentais e, consequentemente, da convivência justa e pacífica entre as pessoas.
Assim o recto uso da liberdade é um ponto central na promoção da justiça e da paz, que exigem a cada um o respeito por si próprio e pelo outro, mesmo possuindo um modo de ser e viver distante do meu. Desta atitude derivam os elementos sem os quais paz e justiça permanecem palavras desprovidas de conteúdo: a confiança recíproca, a capacidade de encetar um diálogo construtivo, a possibilidade do perdão, que muitas vezes se quereria obter mas sente-se dificuldade em conceder, a caridade mútua, a compaixão para com os mais frágeis, e também a prontidão ao sacrifício.
Educar para a justiça
4. No nosso mundo, onde o valor da pessoa, da sua dignidade e dos seus direitos, não obstante as proclamações de intentos, está seriamente ameaçado pela tendência generalizada de recorrer exclusivamente aos critérios da utilidade, do lucro e do ter, é importante não separar das suas raízes transcendentes o conceito de justiça. De facto, a justiça não é uma simples convenção humana, pois o que é justo determina-se originariamente não pela lei positiva, mas pela identidade profunda do ser humano. É a visão integral do homem que impede de cair numa concepção contratualista da justiça e permite abrir também para ela o horizonte da solidariedade e do amor.[6]
Não podemos ignorar que certas correntes da cultura moderna, apoiadas em princípios económicos racionalistas e individualistas, alienaram das suas raízes transcendentes o conceito de justiça, separando-o da caridade e da solidariedade. Ora « a “cidade do homem” não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão. A caridade manifesta sempre, mesmo nas relações humanas, o amor de Deus; dá valor teologal e salvífico a todo o empenho de justiça no mundo ».[7]
« Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados » (Mt 5, 6). Serão saciados, porque têm fome e sede de relações justas com Deus, consigo mesmo, com os seus irmãos e irmãs, com a criação inteira.
Educar para a paz
5. « A paz não é só ausência de guerra, nem se limita a assegurar o equilíbrio das forças adversas. A paz não é possível na terra sem a salvaguarda dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos e a prática assídua da fraternidade ».[8] A paz é fruto da justiça e efeito da caridade. É, antes de mais nada, dom de Deus. Nós, os cristãos, acreditamos que a nossa verdadeira paz é Cristo: n’Ele, na sua Cruz, Deus reconciliou consigo o mundo e destruiu as barreiras que nos separavam uns dos outros (cf. Ef 2, 14-18); n’Ele, há uma única família reconciliada no amor.
A paz, porém, não é apenas dom a ser recebido, mas obra a ser construída. Para sermos verdadeiramente artífices de paz, devemos educar-nos para a compaixão, a solidariedade, a colaboração, a fraternidade, ser activos dentro da comunidade e solícitos em despertar as consciências para as questões nacionais e internacionais e para a importância de procurar adequadas modalidades de redistribuição da riqueza, de promoção do crescimento, de cooperação para o desenvolvimento e de resolução dos conflitos. « Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus » – diz Jesus no sermão da montanha (Mt 5, 9).
A paz para todos nasce da justiça de cada um, e ninguém pode subtrair-se a este compromisso essencial de promover a justiça segundo as respectivas competências e responsabilidades. De forma particular convido os jovens, que conservam viva a tensão pelos ideais, a procurarem com paciência e tenacidade a justiça e a paz e a cultivarem o gosto pelo que é justo e verdadeiro, mesmo quando isso lhes possa exigir sacrifícios e obrigue a caminhar contracorrente.
Levantar os olhos para Deus
6. Perante o árduo desafio de percorrer os caminhos da justiça e da paz, podemos ser tentados a interrogar-nos como o salmista: « Levanto os olhos para os montes, de onde me virá o auxílio? » (Sal 121, 1).
A todos, particularmente aos jovens, quero bradar: « Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente o voltar-se para o Deus vivo, que é o nosso criador, o garante da nossa liberdade, o garante do que é deveras bom e verdadeiro (…), o voltar-se sem reservas para Deus, que é a medida do que é justo e, ao mesmo tempo, é o amor eterno. E que mais nos poderia salvar senão o amor? ».[9] O amor rejubila com a verdade, é a força que torna capaz de comprometer-se pela verdade, pela justiça, pela paz, porque tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Cor 13, 1-13).
Queridos jovens, vós sois um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não vos deixeis invadir pelo desânimo nem vos abandoneis a falsas soluções, que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação.
Vivei com confiança a vossa juventude e os anseios profundos que sentis de felicidade, verdade, beleza e amor verdadeiro. Vivei intensamente esta fase da vida, tão rica e cheia de entusiasmo.
Sabei que vós mesmos servis de exemplo e estímulo para os adultos, e tanto mais o sereis quanto mais vos esforçardes por superar as injustiças e a corrupção, quanto mais desejardes um futuro melhor e vos comprometerdes a construí-lo. Cientes das vossas potencialidades, nunca vos fecheis em vós próprios, mas trabalhai por um futuro mais luminoso para todos. Nunca vos sintais sozinhos! A Igreja confia em vós, acompanha-vos, encoraja-vos e deseja oferecer-vos o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus, de encontrar Jesus Cristo – Ele que é a justiça e a paz.
Oh vós todos, homens e mulheres, que tendes a peito a causa da paz! Esta não é um bem já alcançado mas uma meta, à qual todos e cada um deve aspirar. Olhemos, pois, o futuro com maior esperança, encorajemo-nos mutuamente ao longo do nosso caminho, trabalhemos para dar ao nosso mundo um rosto mais humano e fraterno e sintamo-nos unidos na responsabilidade que temos para com as jovens gerações, presentes e futuras, nomeadamente quanto à sua educação para se tornarem pacíficas e pacificadoras! Apoiado em tal certeza, envio-vos estas refl exões que se fazem apelo: Unamos as nossas forças espirituais, morais e materiais, a fim de « educar os jovens para a justiça e a paz ».
Vaticano, 8 de Dezembro de 2011.

BENEDICTUS PP XVI


Notas
[1] Bento XVI, Discurso aos administradores da Região do Lácio, do Município e da Província de Roma (14 de Janeiro de 2011): L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/I/2011), 5.
[2] Comentário ao Evangelho de S. João, 26, 5.
[3] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 11: AAS 101 (2009), 648; cf. Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 14: AAS 59 (1967), 264.
[4] Bento XVI, Discurso por ocasião da abertura do Congresso eclesial diocesano na Basílica de São João de Latrão (6 de Junho de 2005): AAS 97 (2005), 816.
[5] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 16.
[6] Cf. Bento XVI, Discurso no Parlamento federal alemão (Berlim, 22 de Setembro de 2011):L’Osservatore Romano (ed. port. de 24/IX/2011), 4-5.
[7] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 6: AAS 101 (2009), 644-645.
[8] Catecismo da Igreja Católica, 2304.
[9] Bento XVI, Homilia durante a vigília com os jovens (Colónia, 20 de Agosto de 2005): AAS97 (2005), 885-886.


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Fonte: Extraída diretamente do site do VATICANO.