Foram
celebrados o Domingo e a Celebração do Batismo do Senhor. Muitos passam por aquela
pia que talvez nem represente nada, e vêem, muitas vezes na vida aquela pombinha
que para nós lembra o Espírito Santo. Muitos são batizados, porém poucos A
porta de entrada para a vida e do Reino, também dos outros Sacramentos, nos
lembra o magistério:
“[...] é o
primeiro sacramento da nova Lei, que Cristo instituiu para que todos possam
alcançar a vida eterna 1 e em seguida, confiou à sua Igreja juntamente
com o evangelho, quando ordenou aos apóstolos: “Ide e ensinai a todos os povos:
batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” 2. (CNBB,
2010-a, 14)
Ainda de acordo com algumas
profecias, a porta para a Igreja, em alegoria a entrar pela porta da Igreja
novamente e renovar as promessas feitas naquele dia especial de cada um,
refere-se à porta do Coração de Cristo, no que diz respeito à maior das graças
que um católico pode se submeter. Na noite da Vigília Pascal, é, sem dúvida
ainda mais especial, o cristão, agora, maduro e consciente de seu papel na
Santa Eucaristia já começa a dizer como Santo Agostinho:
“Resolvi por
isso dedicar-me ao estudo das Sagradas Escrituras, para conhecê-las. E
encontrei um livro que não se abre aos soberbos e, que também não se revela às
crianças; humilde no começo, mas que nos leva aos píncaros e está envolto em
mistério, à medida que se vai á frente. Eu era incapaz de nele penetrar ou de
baixar a cabeça à sua entrada. O que eu senti nessa época, diante das Sagradas
Escrituras, foi bem diferente do que agora afirmo.”. (AGOSTINHO, 2011, 71)
Mas
como uma grande maioria, mesmo depois de batizados, não conquista ciência junto
ao Espírito, eis que muito do que se explica sobre o Batismo de Jesus se
explicita em obras de comentadores, em estereótipos (de ateus e de agnósticos),
em películas enlatadas de cinema (das quais muitas costumam enfeitar o fato,
mas há muitos que contam fielmente às Escrituras), em pinturas de museus e
Igrejas (que se revelam excelentes catequeses de parede) e na afirmação Sagrada
chamada Bíblia, essa cena revela mais ainda hoje “naquela pia onde nascem muitos
batizados, porém se tornam maiores do que a criança que ali nasceu de novo”
3, o que o Espírito tem a nos dizer do que naquele dia onde, crianças
apenas, sem noção nenhuma do que se passava, em choro espalhafatoso de criança
que passa por aquilo que Cristo em sua passagem por aqui também passou. De um
certo modo, as crianças no batismo choram, primeiro porque é seu meio de falar
até aprenderem a faculdade mental da fala e porque desde o batismo original já estão
associados à cruz os cristãos, ou seja, assim como os cardeais vestem vermelho
em menção ao sangue que estão dispostos a derramar pela vida do Santo Padre,
nós, os cristãos estamos envolvidos em uma missão da qual poucos conseguem sair
sem o martírio.
Como
nos deixa bem claro, leituras das catequeses do Papa Bento XVI nos deixam
transparecer que o batismo desde cedo revelou a Cristo seu martírio. Ao afirmar
João Batista em frase clássica da Escritura, que também figura em Missais Romanos de Pio V até a Reforma
Litúrgica do Papa Paulo VI em 1970, “Ecce
Agnus Dei, qui tollis peccatta mundi”, em tradução literal do latim, “Este é
o cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo” 4, João Batista está
colocando seriamente a cruz à sombra do Espírito Santo que o prepara para a
missão de três curtos anos e para as três horas das doze de agonia que se
seguirão após a Santa Ceia. Mas, porque somos cheios do Espírito quando nos
batizamos? Porque a cena do batismo manifesta-se assim que, na comunhão agora
com Deus Pai e Filho, este último que “é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se
deixa levar silencioso ao matadouro5, e carrega o pecado das
multidões6, e o Cordeiro Pascal, símbolo da redenção de Israel por
ocasião da primeira Páscoa7” (CIC 608), também nós nos unimos à
Pascoa de Cristo, pois “por nascerem com uma natureza humana e decaída pelo pecado
original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo (CIC,
1250).
O
teólogo Joseph Ratzinger, afirma
claramente em sua obra Jesus de Nazaré 1, que o batismo nos deixa a suspeita
nos evangelhos (lógico, que quem se depara pela primeira vez com as Escrituras),
a menção pelo menos honrosa do Cordeiro. Assim como no Êxodo, o sangue do
cordeiro inibiu o Anjo da Morte na décima e pior das dez pragas egípcias8,
o sangue de um cordeiro em forma de homem suspenso no alto de uma cruz na festa
da Páscoa, na cidade de Jerusalém inibe a morte de devastar o que já era em
suma, levado pelo vento sem cura. O sacrifício humilhante a que se submeteu o
Senhor, em sua obediência serena ao Pai, fez ressuscitar a muitos santos de seu
sono, a fim de testemunharem a elevação do filho de Deus8, assim
como Moisés elevou a serpente no deserto10. Nas palavras do Papa:
“A palavra
acerca do “Cordeiro de Deus”, interpreta, se assim podemos dizer, o caráter
teológico do batismo de Jesus, já iluminado a partir da cruz, da sua descida na
profundidade da morte. (RATZINGER, 2007, 37).
O
Cordeiro que por nós se entregou foi batizado adulto. De certo modo, é sempre
conveniente para os cristãos repetirem os votos feitos por seus pais e seus
padrinhos no dia do seu batismo, já em idade de discrição. São muito poucos os
que depois de aproximadamente quinze anos se lembram de fazer este ritual na
Solenidade do Batismo do Senhor. Lembra-nos o magistério:
“Fiéis são
os que, incorporados a Cristo pelo batismo, foram constituídos como povo de
Deus e assim, feitos participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético
e régio de Cristo, são chamados a exercer, segundo a condição própria de cada
um, a missão que Deus confiou para a Igreja cumprir no mundo.” (CNBB, 2010-b,
76).
“Quero ser
como fui batizado, eleito, provado e chamado”11. São versos muito
bonitos para uma canção católica, porém seria ótimo se esses versos fossem
cantados na maior harmonia com a vida real, de modo que um dia, mesmo que
utopicamente possamos ouvir da boca dos verdadeiros cristãos que a vitória
chegou por meio de Cristo. Ou como afirma um trecho de uma obra, fechando nossa
discussão:
“Essa
vitória sobre o pecado refulge primeiro no Batismo, pelo qual o velho homem é crucificado
com Cristo para que, destruído o corpo do pecado, já não sirvamos ao pecado,
mas ressuscitados com Cristo, vivamos para Deus.” (NUCAP, 2012, 104).
Aos
catecúmenos, que se batizarão na Vigília Pascal, só nos resta torcer pela sua
fé e orar, para que renasçam novos Cristos e novas vidas restauradas por “aquela
pia de onde renascem muitos meninos, dos quais, poucos se tornam maiores do que
as crianças que renasceram ali” por fé de seus pais e seus padrinhos.
Pedro Augusto de Queiroz
Bacharelando do 6º Período de Ciências Sociais da UERN
Notas:
1 Jo 3,5.
2 Mt 28,19.
3 OLIVEIRA, José Fernandes de. O
CRISTO DO MEU BATISMO. São Paulo, Panorâmico, 1972, (Disco).
4 Jo 1, 29.
5 cf Is 53,7; Jr 11, 19.
6 cf Is 53,12.
7 cf Is Ex 12, 3-14; Jo 19, 36.
8 cf Ex 12, 1-30
9 cf Mt 27, 52-53
10 cf Nm 21, 8-9
11 OLIVEIRA, José Fernandes de. DESSA
VEZ É PRA VALER. In: CANTIGAS
DE TERNURA E PAZ. São Paulo, Paulinas-COMEP, 1996, (Disco-CD). (Coleção
“A Canção e a Mensagem”, vol. 6).
Referências Bibliográficas:
CNBB (org.). Código de Direito Canônico. 11 ed. São Paulo,
Loyola, 2010-a.
CNBB (org.). Ritual do Batismo de Crianças. 6 ed. São Paulo, Paulus,
2010-b.
NUCAP (Núcleo de Catequese Paulinas). PASTRO,
Cláudio. Iniciação á Liturgia.
São Paulo, Paulinas, 2012.
AGOSTINHO, Santo. Livro III: Jovem Estudante. In: Confissões. 6 ed. São Paulo, Paulus, 2011.
CNBB (org.). Catecismo da Igreja Católica – CIC. 9 ed. Loyola, 2011.
RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Do Batismo no Jordão à Transfiguração. São
Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário