Poderíamos dizer que é um vício dos
progressistas, ou poderia ser um afrouxamento e/ou falta de fiscalização dos
conservadores. A repetição de certas fórmulas exclusivas, como se vê na missa
atualmente é uma forma de participação para os progressistas, e uma afronta ao
mandamento da Instrução Geral do Missal Romano. Na Oração Eucarística, é que se
encontram as principais “infrações” quanto à recitação da fórmula. Diz a
Instrução Geral do Missal Romano:
10.
Entre as partes que competem ao sacerdote ocupa o primeiro lugar a Oração
eucarística, cume de toda a celebração. A seguir, vêm as orações, isto é, a
oração do dia (coleta), a oração sobre as oferendas e a oração depois da
Comunhão. O sacerdote, presidindo a comunidade como representante de Cristo,
dirige a Deus estas orações em nome de todo o povo santo e de todos os
circunstantes43. É com razão, portanto, que são chamadas "orações
presidenciais".
11.
Da mesma forma cabe ao sacerdote, no desempenho da função de presidente da
assembleia, proferir certas admoestações previstas no próprio rito. Quando
estiver estabelecido pelas rubricas, o celebrante pode adaptá-las um pouco para
que atendam à compreensão dos participantes; cuide, contudo, o sacerdote de
manter sempre o sentido da exortação proposta no Missal e a expresse em poucas
palavras. Cabe ao Sacerdote presidente também moderar a palavra de Deus e dar a
bênção final. Pode, além, disso, com brevíssimas palavras, introduzir os fiéis
na missa do dia, após a saudação inicial e antes do ato penitencial, na
liturgia da palavra, antes das leituras; na Oração eucarística, antes do
Prefácio, nunca, porém, dentro da própria Oração; pode ainda encerrar toda a
ação sagrada antes da despedida.
12.
A natureza das partes "presidenciais" exige que sejam proferidas em
voz alta e distinta e por todos atentamente escutadas44. Por isso, enquanto o
sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão e
qualquer outro instrumento.
13.
Na verdade, o sacerdote, como presidente, reza em nome da Igreja e de toda a
comunidade reunida e, por vezes, também somente em seu nome para cumprir o seu
ministério com atenção e piedade. Estas orações, propostas antes da proclamação
do Evangelho, na preparação das oferendas e antes e depois da Comunhão do
sacerdote, são rezadas em silêncio. 1
Como se lê na presumida citação acima,
existem partes do antigo “Canon” (hoje conhecido como Oração Eucarística), que
batem com esta afirmação. Os exemplos mais famosos de repetição começam na
citação da fórmula da primeira elevação, a “Transubstanciação”: “Tomai Todos e
Comei/Bebei, este é o Meu Corpo/Sangue, que será entregue por vós 2”.
Muitos nem sabem que este momento é somente de recitação solene do sacerdote e,
portanto, devemos fazer silêncio até a hora da fórmula “Eis o Mistério da Fé 3”
quando nos levantamos e bendizemos o Cristo nas duas espécies consagradas.
Sendo cientes de que a Consagração da Hóstia exige silêncio de alma e de coração,
devemos estar contritos para este momento, embora não possamos negar que essas
repetições, tais como as doutrina devocionais chegam a despertar um pouco a fé
dos fieis.
Mais adiante no Canon Missæ, a segunda
fórmula que os fieis repetem é a segunda elevação após a Transubstanciação, a “Consagração”:
“Por Cristo, Com Cristo e Em Cristo 4” (Per Ipsum, Et Cum Ipso, Et In
Ipso). Esta parte da fórmula é para ser recitada pelo sacerdote e logo após é
que o povo pode aclamar “Amém”. Os Bispos podem conferir em muitas cidades pequenas
de gente fervorosa, que entre os fieis, não há um que não saiba as fórmulas do
Missal, inclui-se aqui que nas cidades grandes, se conhece a mais popular, a
Oração Eucarística II, que é mais recomendada e certamente a mais famosa de
todas as 10 Orações Eucarísticas que constam no Missal Romano.
Mas vamos retornar às fórmulas que o
povo repete mais. Já no Rito da Comunhão, vemos mais uma vez a repetição “indevida”
da fórmula “Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos: Eu vos deixo a
paz, Eu Vos Dou a Minha Paz. Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima
Vossa Igreja. Dai-lhe segundo o Vosso desejo, a paz e a unidade 5”.
Esta fórmula não acha brecha ou exceção para ser repetida pelo povo e muito
menos precisa correr em clima de extrema sacralidade, pois está sempre direcionada
para o popular e aguardado “Abraço da Paz” que se realiza após o Pai Nosso.
Já mais à frente, no “Eis o Cordeiro de
Deus que tira o Pecado do Mundo (Ecce Agnus Dei) 6”, o povo repete
mais uma vez indevidamente a terceira elevação da Hóstia consagrada, a “Apresentação
do Cordeiro”, cuja primeira frase que compete apenas ao sacerdote, para só
depois o povo aclamar “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada[...]”
(Mt 8, 8) 6. O que chama a atenção é que hoje em dia, a terceira
frase da fórmula quem está levando ao povo é o sacerdote. Diz o Missal Romano
que o sacerdote deve rezar em silêncio a fórmula: “O corpo e o sangue de Cristo
nos preparem para a vida eterna 7”, numa espécie de anagrama das
duas fórmulas originais separadas que estão estampadas nas páginas do Missal.
Como se vide, a Missa foi por muito
tempo e ainda continua hoje um portal para o céu, porém é preciso que muitos
conheçam a fundo a doutrina de sua Igreja. Hoje em dia, com a abertura do Ano
da Fé pelo Papa Bento XVI, os católicos são chamados a estudar o CIC-Catecismo
da Igreja Católica (1992) e os documentos do Magistério, também os do Concílio
Vaticano II (1962-1965), magno evento que comemora 50 anos. Mas também não
seria muito útil para o povo um estudo um pouco mais aprofundado sobre as
mudanças na liturgia com a promulgação do atual Missal Romano instituído pelo
Papa Paulo VI em 1969, em substituição ao Misale Romanum promulgado pelo Papa
Pio V por volta de 1570, celebrando por ele o Rito Extraordinário da Santíssima
Eucaristia, chamada de Missa Tridentina, que até 1971 ainda era celebrada no
Brasil em Latim.
Quantos não foram santificados pela
Missa Tridentina e seu ambiente de Sacralidade permite uma interiorização mais
profunda, ao dar espaço para os fieis rezarem um rosário ou um ofício em
silêncio, enquanto o sacerdote confia a Eucaristia aos céus elevando-a e
benzendo-a em sinal de Cruz pronunciando “Santi+ficas, Vivi+ficas, Bene+dices, et prestas nobis 8”.
Muitas senhoras idosas hoje em dia ainda vão à missa como se estivessem
esperando a missa em Latim, porém quase acostumadas à celebrar pela nova
liturgia. O único defeito do Rito Extraordinário, é que ao contrário da Missa
de Paulo VI, os fieis não têm tanta participação quanto gostariam e é mais
fácil praticar o pecado da preguiça nos bancos da Igreja neste silêncio todo. Mas já um bom passo saber que por meio do Motu Proprio Summorum Pontificum 9, o Papa Bento XVI permitiu a volta do Rito Extraordinário para quem quiser rezá-lo. Bom para os fieis que ainda acreditam que a Igreja, em suas mais diversas manifestações, está sempre ligada à seu ponto de fé central, a Eucaristia. "Vale ressaltar que a Oração Eucarística faz duas importantes súplicas ao Pai para que envie Seu Espírito Santo: a primeira na "Consagração", e a segunda, para a comunidade, após a "Consagração". Esta súplica pela comunidade é feita para que seja fortalecida na caridade viva intensamente a comunhão." 10.
Pedro Augusto de Queiroz
Bacharelando do 6º Período de Ciências Sociais
Referências:
1
MISSAL ROMANO. Instrução
Geral, nn. 10-13
2
Idem, Oração
Eucarística II, p. 478
3
Idem, Ibidem, p. 479
4
Idem, Ibidem, p. 481
5
Idem, Rito da
Comunhão, p. 501
6
Idem, ibidem, p. 503
7
Idem, ibidem, p. 503-504
8 Misale Romanum, Ritus servandus
in celebratione Missæ, p. 71
9 RATZINGER, Joseph (Papa Bento XVI). Carta Apostólica sob a forma de Motu Próprio "Summorum Pontificum" sobre o uso da Liturgia Romana anterior à reforma realizada em 1970. 2 ed, São Paulo: Paulinas, 2007.
10 TURRA, Frei Luiz. Vamos Participar da Missa?. São Paulo: Paulinas, 2012, pp 84.
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